Nesse encontro, inauguramos a série vozes com a presença da atriz, cantora, performer-criadora Barbara Biscaro. A Barbara, em passagem por São Paulo nos visitou e contou um pouco sobre seus trabalhos e projetos. Ela é de Florianópolis e trabalha na confluência do teatro com a música, especialmente no uso da palavra cantada na cena e nas dramaturgias para o teatro influenciadas pela linguagem musical. Ela fez seu doutorado em teatro na UDESC, com uma tese a respeito da vocalidade e da escuta. É curadora e organizadora do festival Vértice Brasil, ligado a uma rede internacional de mulheres de teatro chamada Magdalena Project. O Vértice existe há dez anos e vai realizar seu quinto festival no ano que vem.
A Barbara contou um pouco sobre as motivações para a criação de um encontro internacional de teatro feito por mulheres, o Vértice Brasil. A ideia foi conversarmos sobre estratégias de sobrevivência de grupos como a Sonora a partir da experiência dela em projetos semelhantes. Ela falou sobre o formato dos eventos que organiza, sobre o esforço contínuo de horizontalidade nos debates em torno das agendas feministas, sobre a necessidade do convívio presencial com mulheres de outras culturas etc. Além disso, a Barbara nos apresentou alguns de seus trabalhos artísticos mais recentes e de como o feminismo influencia sua perspectiva criativa, já que age criticamente no olhar do outro sobre a mulher, a atriz, a cantora.
O projeto Vértice Brasil faz parte da rede internacional Magdalena Project. Essa rede surgiu em 1986 no país de Gales, quando várias atrizes em um festival na Itália se deram conta de pouca participação de mulheres nos papéis de direção. Reflete sobre os papéis de atuação da mulher nos espetáculos, sobre o lugar da atriz e da cantora ser reservado à mulher como lugar do fetiche: a diva, a estrela, o objeto, mas nunca criadora do próprio discurso. Essas atrizes quiseram criar um festival organizado por mulheres e que foi se espalhando e assumindo um papel importante nas artes cênicas e no ativismo feminista. Hoje o Magdalena Project existe em mais de 24 países.
“O Projeto Magdalena tem o compromisso de fomentar a consciência da contribuição da mulher ao teatro e apoiar a experimentação e a pesquisa, oferecendo oportunidades concretas para o maior número possível de mulheres. Ele conta com uma estrutura singular que lhe permite funcionar internacionalmente e de ser adotado e ampliado por mulheres em todo o planeta.” (site Vértice Brasil)
Na segunda parte do encontro, a Bárbara falou sobre alguns dos seus trabalhos artísticos, como o espetáculo de 2010 – A menina boba. Esse trabalho toca no empoderamento discursivo das mulheres do início do século XX, especialmente da poetisa Oneyda Alvarenga.
“O espetáculo mistura as linguagens da música e do teatro para tecer uma dramaturgia baseada na obra da poetisa Oneyda Alvarenga e no ciclo de canções homônimo “A Menina Boba”, do compositor Cláudio Santoro. Explorando a voz cantada e falada em cena, o movimento abstrato e elementos da biografia e obra poética de Oneyda, a atriz-cantora tece a biografia da poetisa, misturando elementos reais e fictícios. As canções transitam desde o universo dodecafônico criado por Santoro até as modinhas imperiais brasileiras, criando um universo sonoro da cena em constante diálogo com o formato teatral da encenação.” (sinopse retirada do site de Barbara Biscaro)
Links recomendados
www.barbarabiscaro.blogspot.com.br
www.facebook.com/espetaculorecita
www.themagdalenaproject.org/pt-br
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