No primeiro encontro do grupo mulheres na música contemporânea e experimental (esse foi o primeiro nome do grupo), fizemos um levantamento de temas, desejos e vontades que cada participante tinha em relação às ações do grupo e decidimos começar com um grupo de estudos para conhecermos mais trabalhos de compositoras, artistas sonoras e criadoras.
Nesse encontro realizamos o primeiro grupo de estudos com sessões de escuta de alguns trabalhos sonoros criados por mulheres. A ideia foi pedir para cada participante do grupo selecionar e apresentar três artistas. Essa seria nossa primeira ação na busca por conhecer e divulgar os trabalhos. O critério de escolha estava a cargo de cada pessoa nesse primeiro momento, sem recorte pré-estabelecido pelo grupo.
Eu fiquei encarregada por fazer a apresentação na primeira sessão do grupo de estudos e escolhi três referências de gerações e trabalhos bastante diferentes. O critério foi passar por artistas que não pertencem à um campo único de criação e atuação, bem como buscar uma diversidade de nacionalidades e faixas etárias.
As selecionadas foram:
- Maja Ratkje, compositora norueguesa;
- Pharmakon (Margareth Chardiet), artista da cena noise nova-iorquina;
- Janet Cardiff, artista sonora canadense.
O encontro acabou se estendendo e decidimos escutar apenas o trabalho da Maja Ratkje e deixar a Pharmakon e a Janet Cardiff para o próximo encontro.
Maja Solveig Kjelstrup Ratkje (1973 -) é compositora e performer norueguesa. Tem trabalhos para orquestra, instalações sonoras, música eletroacústica, teatro, dança e grupos menores em que participa como criadora e improvisadora. Maja é membro do grupo norueguês de improvisação feminino SPUNK. Trabalha muito com voz, canto e vocalizações e tem uma relação muito interessante com o ruído. Tem uma voz que transita entre a doçura, o encanto e agressividade, o ruído.
Em uma entrevista sobre música e ruído, Aaron Cassidy e Aaron Einbond fizeram duas perguntas simples: O que é músia-ruído pra você e por que você a faz? Maja respondeu assim:
“Música-ruído é libertadora, celebra a vida e é exigente. Em sua melhor forma, é multi dimensional, é ao mesmo tempo sombra e luz, e a sua própria maneira, é bonita. Eu faço por causa de tudo o que disse antes. E porque eu sinto que o ruído real hoje é a cultura popular rasa, o marketing cheio de mensagens alto-complacentes que eu não posso contornar, não importa para onde eu vá na civilização. A razão principal de eu fazer ruído é o otimismo sincero que eu sinto nessa expressão, como se a música-ruído contivesse muito mais aspectos da vida do que a música com “mensagem” sincera.” (no livro Noise in and as Music, editado por Cassidy e Eibond, 2013, p. 55)
Para essa apresentação, eu escolhi tratar de dois projetos diferentes dela. O trabalho solo de voz e eletrônica e o grupo de improvisação SPUNK, grupo norueguês de improvisação que conta com quatro musicistas Kristin Andersen (trompete e flauta doce), Lene Grenager (violoncelo), Maja Solveig Kjelstrup Ratkje (voz e eletrônica) e Hild Sofie Tafjord (trompa). O grupo existe desde 1995 e desenvolve trabalhos que pensam as relações com os espaços públicos e privados, como no caso de LYS (luz). LYS é uma interação entre o ambiente do museu Henie Onstad Art Centre na noruega e as musicistas que, durante um período de tempo, se apropriam do espaço. Spunk interpreta o prédio e o entorno daquele ambiente, focando nas qualidades espaciais que a luz vai adquirindo para criarem suas intervenções sonoras.
O projeto de voz solo de Maja foi o que mais me chamou atenção, especialmente pela maneira como ela pensa a voz. Para ela, “conceber a voz como um veículo genérico para palavras, alturas e durações é negligenciar dimensões vocais e sonoras essenciais e que não são percebidas naturalmente” (site pessoal). Abaixo mostro alguns exemplos desse trabalho vocal.
Disco Voice – Primeiro solo de Maja Ratkje lançado em 2002.
Breathe, 2008 – Música feita para uma instalação ao ar livre, pra ser escutada com fones de ouvido.
Wintergarden, 2005 – Filme de Daria Martin, música de Maja Ratkje
Trailer do filme Voice: sculpting sound with Maja S K Ratkje
Referências
Cassidy, Aaron; Eibond, Aaron (Ed.) Noise in and as Music. 2013.