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Ata da reunião de 03/06/2019 – Visões – com o grupo Vozes Inaudiáveis

A rede Sonora recebeu hoje o grupo Vozes Inaudiáveis. Elas participaram da serie Visões, em que pessoas que estudam e trabalham com obras de mulheres contam sobre seus trabalhos.

Elas contaram como surgiu o grupo, com três integrantes, a partir do PET : Programa de Ensino Tutorial, coordenado pelo Prof. Maurício De Bonis, na UNESP. Este programa é apoiado pelo MEC para desenvolver atividades de extensão, com a finalidade de aproximar a universidade de outras comunidades não acadêmicas.

O grupo começou pesquisando compositoras na universidade, na biblioteca, em sites, fazendo um levantamento de quantas partituras eram disponibilizadas e outros aspectos ligados à temática. Foram entrevistar a compositora Denise Garcia, que lhes deu algumas partituras e incentivou o grupo a apresentarem uma peça vocal para quatro vozes. E assim a peça foi interpretada em recital por quatro cantoras.

O nome veio da questão de as mulheres compositoras terem suas vozes silenciadas, inaudíveis. Ao mesmo tempo, o grupo queria expressar a urgência de divulgar o quanto antes, o que parecia uma empreitada inadiável. A fusão destas ideias se configurou no título Vozes Inaudiáveis.

O grupo tem encontros semanais, em que organizam recitais com obras de mulheres, e fazem também intervenções pontuais na UNESP. Uma delas foi colar cartazes em locais visíveis do Campus, com dizeres como “Voce sabia que a irmã do Mozart era compositora? Já ouviu alguma obra dela?”.

Começaram a organizar recitais com repertório voltado às mulheres. O primeiro concerto, realizado na UNESP, se chamou “Concerto Delas”. Abriram uma chamada para alunxs e professorxs e receberam oito propostas, sendo a metade de autoria de membros do próprio grupo. Elxs acham que há bastante resistência por parte dxs intérpretes, devido, tanto ao preconceito, quanto ao acúmulo de atividades que elxs têm no currículo.

Outra atividade é a de colocar cartazes com fotos e biografias resumidas em cavaletes pela universidade. Também nas redes sociais o grupo interage, como a realização de “quizes” sobre compositoras e obras, semanalmente, no Instagram (todo sábado).

As “Vozes” também fizeram uma intervenção chamada “Onde não estão as mulheres na música”, em que colaram papéis coloridos com nomes de mulheres tidas como referências musicais na vida dxs alunxs. Contaram que se inspiraram na intervenção feita pela Sonora anteriormente. Foram preenchidos mais de cem papeis, que ficaram expostos na parede. A recepção foi, em sua maioria, positiva. Alguns alunos comentaram negativamente sobre a atividade, dizendo que o grupo queria somente chamar atenção.

Foi perguntado ao grupo se as mulheres participantes compõem. A resposta foi que poucas estudam composição, mas já houve peças delas executadas nestes recitais. O grupo citou a inibição em mostrar composições próprias no contexto das aulas e da universidade em geral. Foi consenso que alunas se sentem mais cobradas a apresentar resultados de alto nível do que os alunos.

O grupo “Vozes Inaudiáveis” não pensa em convidar professorxs porque imagina que estxs são muito ocupadxs para fazer parte. No início seus(suas) integrantes pensaram em abarcar também as artes plásticas, o que depois se mostrou excessivo. Uma professora das artes se interessou, mas depois o contato se esvaiu.

Em relação à música eletroacústica, o grupo disse que tem dificuldade para executar. Não há instrumentos e aparelhos disponíveis, e o laboratório é restrito ao uso de compositorxs ligados ao professor responsável.

As “Vozes” conheceram a compositora Nilcéia Baroncelli por meio do regente Lutero Rodrigues. Uma das integrantes pediu a ele referencias de compositoras e partituras. Lutero mencionou a Nilcéia como uma especialista no assunto, mas não passou seu contato. Coincidentemente, uma das meninas do “Vozes” foi assistir à orquestra de cordas Laetere, da regente Muriel Waldman, e encontrou a Nilcéia. Depois disso foi organizado um encontro com ela na UNESP, do qual Eliana participou representando a Sonora.

Apesar de se interessarem pela pesquisa sobre mulheres na música, as meninas do “Vozes” sentem que o mais importante é estar em grupo para atenuar as decepções e angústias. Chamaram algumas vezes o Coletivo feminista da UNESP para fazer grupos de estudo. Estas ocasiões não se repetiram muitas vezes. Foram lidos textos da Ângela Davis, entre outros.

O grupo se mobilizou também para realizar ações ligadas a Direitos Humanos. Porém, ao tentar discutir assuntos como assédio e violência na instituição perceberam que é um terreno pantanoso, apesar de encontrarem receptividade por parte da Comissão de Direitos Humanos do Instituto de Artes (IA).

Foi comentado como é complicado lidar com denúncias no Departamento. As pessoas que querem denunciar têm que assumir a autoria. Foram informadxs que a universidade não conta com assistência emocional, física ou jurídica. Ainda que a denúncia seja aceita, não há como impedir um professor ou colega de conviver com a pessoa que se sente vulnerável.

As “Vozes” citaram um contato que tiveram com a compositora Vania Dantas Leite, que faleceu antes que o grupo conseguisse organizar um concerto com suas obras. A Sonora também compartilha este interesse, para o que sugeriu fazer uma parceria entre os grupos. Lilian contou que travou contato com a família da compositora no fim do ano passado, mas que neste ano a conversa não foi retomada. Este é um desejo que pode ser realizado coletivamente.

Foi lembrado que, no ano passado, as “Vozes” vieram conhecer a Sonora. Perguntamos em que este contato reverberou para suas atividades. Foi mencionado que a Sonora tinha uma organização de atividades que inspirou o grupo a pensar suas ações.

As Vozes Inaudiáveis deixaram claro que têm muita energia e potência, em relativamente pouco tempo de atuação já fizeram diversas atividades. Estão de parabéns, e a todxs do grupo desejamos muito sucesso!!