A rede “Sonora – músicas e feminismos”, através de integrantes abaixo assinados, vêm manifestar preocupação e, mais do que isso, consternação, frente a alguns recentes ocorridos que revelam intolerância e arbitrariedade em relação a pesquisas, eventos e apresentações musicais positivas ligadas a questões de raça, gênero e classe no Brasil.
Sendo assim, declara apoio à moção redigida e apresentada pelo Conselho Universitário da UFBA e assinada pelo seu reitor, prof. João Carlos Salles Pires da SIlva, em defesa de pesquisadores e grupos de pesquisa ligados a investigação sobre gênero e sexualidade, como é o caso da Professora e Pesquisadora ligada ao NEIM (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher) que foi ameaçada de morte, e do aluno de mestrado do Professor Leandro Colling, do grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade (CUS), também da UFBA, que teve que solicitar segurança para garantir a defesa de sua dissertação por conta das ameaças ou outras violências sofridas.
Outro caso que nos mobiliza são os ataques que podem ser qualificados como injúria e difamação sofridos pela maestrina Priscila Santana, a frente da orquestra sinfônica do Projeto Social PRIMA, na Paraíba. A maestrina, ciente do racismo sistêmico em nossa sociedade e à frente de um projeto social – portanto, comprometida com o desenvolvimento crítico e digno de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade -, propôs um repertório musical composto só por compositores negros, com o intuito de divulgar e dar visibilidade às lutas contra o racismo e produções culturais pouco difundidas no meio da música clássica orquestral. Infelizmente, ao escolher um repertório não consagrado, em lugar de perpetuar o mesmo repertório branco, europeu e de dois séculos atrás, a maestrina foi acusada de estar se aproveitando de sua posição de poder, enquanto regente, para se autopromover. O que poderia e deveria estimular o pensamento crítico acerca da construção de canons e repertórios, e de como esta construção passa por escolhas ideológicas, resultou em atos e discursos de ódio que só fazem aumentar a intolerância em nosso já sofrido cotidiano.
A rede Sonora reconhece os trabalhos da educadora e pesquisadora do NEIM, da maestrina Priscila Santana e de tantos intelectuais e artistas como, não só importantes, mas fundamentais para o combate ao racismo, machismo, a misoginia, legbtqifobias e tantas outras violências. São trabalhos que questionam padrões e normas cristalizados denunciando posições de poder e privilégio, e mostrando outras possibilidades mais igualitárias e representativas.
Declaramos nosso total apoio à professora e pesquisadora do NEIM e a maestrina Priscila Santana. A Sonora repudia perseguições e atos repressores de qualquer natureza, principalmente no ramo das artes e da pesquisa, que são campos necessários e urgentes de reflexão e discussão sobre saberes e poderes na nossa sociedade. Censuras que têm aumentado em nosso país e que colocam em xeque a democracia cada dia mais frágil e tão corajosamente conquistada. Sendo assim, a rede se coloca ao lado dxs profissionais que lutam dia a dia para construir um país e um mundo mais justo, onde a cultura possa ser respeitada em toda a sua diversidade e pluralidade.
Assinam
Eliana Monteiro da Silva
Tânia Mello Neiva – UFPB
Antonilde Rosa Pires – UFRJ
Ísis Biazioli de Oliveira
Tânia Maria Silva Rêgo – UNIRIO
Camila Durães Zerbinatti – UFSC
Valério Fiel da Costa – UFPB
Maria Clara Valle – Violoncelista/Arranjadora/Produtora Cultural
Marcela Velon – UNIRIO
Flávia Rios – UFF
Valéria Bonafé
Carolina Andrade Oliveira
Lilian Campesato
Ariane Stolfi
Isabel Nogueira
Fabiana Stringini Severo
Catarina Leite Domenici
Denise Espírito Santo – UERJ
Flora Camargo Gurfinkel
Luciano Cesar Morais e Silva
Fernanda Pinheiro da Silva
Mariana Carvalho
Mônica Ávila de Oliveira – Saxofonista/Flautista – UNIRIO
Karin Verthein – Violinista/Educadora musical – Colégio Pedro II
Davi Donato
Ale Fenerich
Leila Monsegur
Inti Queiroz (FFLCH – USP)
Marilia Velardi
Mirian Steinberg (IA / UNESP)
Tânia Ferreira Rezende UFG
Grupos de Pesquisa e Coletivos
Africanias – UFRJ
Obiah Estudos Interculturais da Linguagem – UFG
Núcleo de Estudos Guerreiro Ramos – UFF
Músicas – UFRJ/UNIRIO
Baque Mulher – João Pessoa
Laboratório de Ensino da Arte – Instituto de Artes – UERJ
Grupo de Pesquisa em Estudos de Gênero, Corpo e Música da UFRGS – Profª Isabel Nogueira
Grupo de estudo ECOAR – Estudos em Corpo e Arte da EACH-USP