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Visões – “Imagem, imaginário e representações da mulher negra”, com Rosane Borges (Texto)

Captura de Tela 2016-06-08 às 23.19.27No dia 06/06/2016 a rede Sonora recebeu, como convidada da série Visões, a jornalista e pesquisadora Rosane Borges. Rosane é Mestre, Doutora e Pós-Doutoranda no Departamento de Jornalismo da ECA-USP, integra a Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra (OAB-SP), a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-SP) e o Conselho Nacional de Promoção de Políticas da Igualdade Racial (CNPIR) da Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial).

Além de organizadora e coautora do livro “Mídia e Racismo”(2012), no qual apresenta um capítulo dedicado à discussão da imagem da mulher negra na mídia, possui diversos livros publicados, tais como “Jornal: da forma ao discurso” (2002), “Rádio: a arte de falar e ouvir” (2003) e “Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro” (2004). No encontro com a rede Sonora, Rosane falou sobre um pouco de tudo isso. Contou sua trajetória rumo à construção da própria imagem como cidadã negra num país marcado pela colonização escravocrata, e da luta que assume, dia após dia, para mudar os paradigmas de representação da nossa sociedade. Não é a toa que ela integra todas as comissões citadas, atua como professora de comunicação e jornalismo e escreve no blog da revista Boitempo, entre outras publicações.

Rosane Borges ingressou no Movimento Negro bem jovem. Neste ambiente percebeu que, além das questões racistas, havia mais um obstáculo a transpor, pelo qual haveria de militar: as questões sexistas. Como exemplo, a jornalista aponta os diferentes índices de desenvolvimento humano presentes no Brasil se consideramos a população segundo a raça e o sexo: “Enfocando todo o povo brasileiro, o país fica em 79/80º lugar no panorama mundial. Se for considerada somente a população branca, este IDH sobe para a 38ª posição, similar à de países com alto índice de desenvolvimento. Se considerada somente a população negra, este índice cai para o 100º lugar. E piora muito se olharmos a população feminina negra. Isto mostra a enorme desigualdade econômica, intimamente relacionada ao racismo e ao sexismo”.

Captura de Tela 2016-06-08 às 23.56.39Estas questões estão relacionadas às políticas de representação. Política de representação é o papel que cidadãos assumem de acordo com uma “previsão”. Há a representação jurídica, teatral e política. Alguém representa um outro alguém para uma função determinada.

“Por exemplo, um comercial de margarina. A margarina é um produto barato, não precisa ser uma família de classe média alta para comprar. No entanto, as propagandas mostram pessoas brancas padrão norte europeu, casais heterossexuais, cachorros da raça “Golden” mesas fartíssimas. De onde se pode concluir que o objetivo não é vender margarina, mas sim impor uma imagem do que é ser feliz, do que todos gostariam de ser e ter e do que devemos lutar para conquistar”.

Rosane observa que a população negra significa 51% do Brasil. Espantosamente, a maioria das pessoas não se questiona por que brancos podem passar valores à totalidade da população e negros não. Como a propaganda da margarina. Há uma fração da sociedade que não se vê como racista, não quer o racismo mas não questiona a realidade. Noções como “cabelo ruim” e valores diferenciados entre brancos e negros são assimilados todo o tempo. Isto tem a ver com as políticas de representação.

O poder da representação diz onde as pessoas podem estar ou não. Os que não podem estar são “invisíveis”. A ordem discursiva estabelecida é hierárquica. Ser visível é ganhar existência.

“No campo da música, a mutilação da cidadania é semelhante. O papel do homem e da mulher negra na música erudita, por exemplo, é pratica

mente nulo. A população negra fica restrita ao âmbito do que é considerado popular, ao samba, à capoeira e outras manifestações. Estas não são menores, mas a restrição às outras esferas é injusta e cria um imaginário de que as pessoas negras são limitadas”.

Ao final da conversa, Rosane Borges se definiu como uma pessoa de discurso pessimista, mas de ações otimistas. Ela enxerga os avanços e conquistas obtidas pelos coletivos e movimentos negros, assim como acredita em iniciativas de grupos como a rede Sonora.

Para ela, políticas de ação podem criar contra-representações, como contratar técnicos negros para times de futebol, por exemplo. Se o futebol está “no sangue do negro” por que os negros não podem ser técnicos? Este tipo de postura pode e deve mudar o cenário cotidiano.

 

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Ata da 13ª Reunião (06/06/2016) Série Visões com Rosane Borges

Série Visões com Rosane Borges*:  “Imagem, Imaginário e Representações da Mulher Negra”

  • Rosane Borges iniciou o encontro contando que ingressou no Movimento Negro desde cedo, percebendo de imediato as questões sexistas.
  • Para ilustrar os números do racismo e do sexismo no Brasil, citou que o IDH do país o coloca em 79/80º lugar no panorama mundial. Se considerada somente a população branca, este IDH sobe para a 38ª posição, similar à de países com alto índice de desenvolvimento. Já se considerada somente a população negra, o índice cai para o 100º lugar. E piora quantitativamente se considerada somente a população feminina negra.
  • O que isto tem a ver com a imagem da mulher negra, principalmente na mídia? O que esta imagem tem a ver com o mundo da música?
  • Os papeis do homem e da mulher negra na música erudita é praticamente nulo. Sua atuação fica restrita ao âmbito da música popular, do samba, da capoeira e de outras manifestações. Estas não são menores, mas a restrição às outras esferas é injusta e cria um imaginário de que estas pessoas são limitadas.
  • Há uma fração da sociedade que não se vê como racista, mas não questiona a realidade. Ninguém se espanta com a falta de negros e negras na medicina, odontologia ou advocacia. As políticas de representação determinam quais posições negros e negras devem ocupar. Desde cedo aprende-se o que é o “cabelo ruim”, e que brancos e negros têm valores diferenciados.
  • Política de representação é o papel que cidadãos assumem de acordo com uma “previsão”. Há a representação jurídica, teatral e política. Alguém representa um outro alguém para uma função determinada.
  • Rosane cita, por exemplo, um comercial de margarina. A margarina é um produto barato. Não precisa ser uma família de classe média alta para comprar, mas a propaganda mostra pessoas brancas “caucasianas”, um casal heterossexual, um cachorro “Golden” e uma mesa fartíssima. Portanto, o objetivo não é vender margarina, mas sim uma imagem do que é ser feliz, do que todos gostariam de ser e ter e do que devemos lutar para conquistar. A mensagem é clara e define os valores que devem ser perpetuados.
  • A população negra significa 51% do país. Só num país como o Brasil as pessoas não se questionam por que brancos podem passar valores à totalidade da população e negros não. Como a propaganda da margarina.
  • O poder da representação diz onde as pessoas podem estar ou não. Os que não podem estar são “invisíveis”. A ordem discursiva estabelecida é hierárquica. Ser visível é ganhar existência.
  • Rosane diz que é preciso implodir o imaginário. Não basta ter boa intenção. É preciso abrir mão do privilégio de ser branco. É preciso abrir mão do privilégio de ser homem. É preciso dar um passo atrás, mudar as normas que atribuem reconhecimentos diferenciados.
  • Sobre o negro há um aprisionamento de imagem. Esta imagem antevê uma representação do que seria ser negro.
  • As pessoas não se comovem pelos negros. Do ponto de vista da visibilidade, negros, LGBT, e outras minorias não são consideradas humanas. O número de mortes de jovens negros não diz respeito à comunidade em geral, não aparece nos noticiários e não comove como deveria.
  • Como mudar esta realidade? Rosane propõe políticas de ação para criar contra-representações. Como contratar técnicos negros para times de futebol, por exemplo. Se o futebol está “no sangue do negro” por que os negros não podem ser técnicos? Este tipo de postura poderia mudar o cenário cotidiano.
  • Finalmente, no campo da música Rosane aconselha a pesquisa das raízes da música sul-americana e mesmo da europeia, onde há vários indícios da passagem de negros e negras. Também não se pode imaginar os EUA sem negros, sem o jazz, entre outros estilos. O tango tem raízes negras. Há diversos instrumentos também, não só de percussão.

*Rosane Borges é Jornalista, Mestre, Doutora e Pós-Doutoranda no Depto. de Jornalismo da ECA-USP. Integra a Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra (OAB-SP), a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-SP) e o Conselho Nacional de Promoção de Políticas da Igualdade Racial (CNPIR) da Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial). Possui diversos livros publicados, entre eles: Jornal: da forma ao discurso (2002), Rádio: a arte de falar e ouvir (2003) e Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro (2004).

 

Planejamento da próxima reunião – interna – dia 13/06/2016

  • Rosane Borges recomendou a leitura do texto “A partilha do sensível”.
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Visões – “Imagem, imaginário e representações da mulher negra”, com Rosane Borges (Divulgação)

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Sonora convida para mais uma edição da série Visões na próxima segunda-feira, 06/06, às 17h30. Nesse encontro a jornalista e pesquisadora Rosane Borges falará sobre sua trajetória profissional, os desafios e conquistas, as narrativas que tratam da mulher negra e suas representações pela mídia, e sua atuação, enquanto mulher, em instituições voltadas à igualdade racial.

Rosane BorgesRosane Borges é jornalista, pós-doutoranda em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, integrante do grupo de pesquisa Midiato (ECA-USP) e professora do Curso de Especialização do Celacc (Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação da USP). Foi coordenadora nacional do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC) da Fundação Palmares, órgão do Ministério da Cultura, e professora do Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde integrou o corpo docente do mestrado em Comunicação Visual. Coordenou a Revista Nguzu (NEAA-UEL) e escreve regularmente nos portais de notícias “Obsevatório da Imprensa”, “Geledés” e “Áfricas”. Integra a Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra (OAB-SP), a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-SP) e o Conselho Nacional de Promoção de Políticas da Igualdade Racial (CNPIR) da Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial). Possui diversos livros publicados, entre eles: Jornal: da forma ao discurso (2002), Rádio: a arte de falar e ouvir (2003) e Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro (2004).

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Contribuições da rede Sonora para o Forum WISWOS – Educating Girls in Sound – apresentado por Lílian Campesato – English Version

WISWOS 2016 – April, the 22th – Lancaster University

Lílian Campesato

Sonora – NuSom

lilicampesato@gmail.com

 

I – Introduction and Context

 

My name is Lílian Campesato and I represent Sonora, a collaborative network that brings together artists and researchers interested in feminist expressions in the field of arts, specially the context of Brazilian and Latin American issues.

But I’m also speaking by and about myself as a Brazilian women, artist, performer, researcher and pregnant with my first baby.

 

SONORA Network

 

SONORA is a collaborative network that brings together artists and researchers interested in feminist manifestations in the context of the arts. The group promotes the establishment and occupation of spaces and develops debates and academic research related to participation of women in music. It is also involved in different types of musical activities. Sonora currently holds three regular activities: the Study Group, which carries discussions of texts and listening sessions; the Voices Series, which invites women artists to talk about their own work; and the Vision Seria, which receives researchers and scholars involved with gender issues and feminisms.  Sonora is crossed by uncertainty, vagueness, reticence, openness, affectivity, sensitivity, noise. Thus, the group establishes itself as a mutant organization that welcomes different types of collaboration.

 

The main goals of Sonora are the creation and occupation of artistic and academic spaces, and, in addition, conducting research and discussions on various

aspects of musical activities. These proposals takes place through three regular activities: a Study Group, with discussions of texts and listening sessions; the Voices series, which gets women artists to talk about their own work; and the Visions series, which gets researchers who work in gender and feminisms areas. Sonora is crossed by uncertainties, indefinitions, reticences, openings, affectivities, sensitivities, noise… which gives it a mutant profile that is open to endless collaborations.

  • Activism

 

Forum WISWOS 2016: Educating Girls in Sound

 

  1. What impact does the current education system have on young girls to deter them from moving into the fields of science, technology, the arts and engineering with sound? How can it be improved?
  2. What happens in the music/sound tech classroom?
  3. At what point do we see the drop from equal interest to little interest?
  4. What initiatives already exist that do encourage girls to engage?
  5. What can we do, and should we do it or not?

 

WISWOS 2016 are looking for their contributions to change: innovative, imaginative, thoughtful, challenging ideas that can be put forward to propose changes to primary, secondary and third level education. We are also looking at experiences: what educational or non-educational experiences shaped your engagement with sound. What were the positives and negatives? What ideas do you have? If you are part of an organization that already works to challenge the gender divide we welcome your input and ideas.

 

II – My Contribution to WISWOS

 

Sonora:

As soon as I knew that my participation at WISWOS was accepted I shared the main questions proposed for the meeting with my colleagues at SONORA. I’ve received an enthusiastic collaboration from SONORA members who kindly shared their thoughts and experiences related to the WISWOS issues. Although these personal accounts have been placed in an informal and not always organized manner, I would like to present some ideas that may represent a contribution to our discussion. Besides, I want to thank some colleagues who sent their comments: Vanessa de Michelis, Eliana Monteiro. Ariane Stolfi, Antonilde Rosa, Valéria Bonafé, Alexandre Fenerich, Davi Donato, Isabel Nogueira, Tânia Neiva.

 

1. Discussion: Women in Brazilian cultural environment: the social role attributed to women (women’s role in society; the participation of religion,  Estate and other institutions in the regulation of this role)

 

Many classrooms in Brazil until the mid-1960s were not mixed. The unprecedented access of girls to school was accompanied by sexist discrimination complaints. One has to consider that these researches about sexism in school date back to 1970, when feminism was maturing as a mass movement and was entering the academic world. The situation is similar when we address the question of social class: the notion that the school reproduces social inequality appears alongside the entry of low-income population in educational institutions. If there is no poor people – and women – in school, inequality is evident.

 

2. Discussion: What impact does the current education system have on young girls to deter them from moving into the fields of science, technology, the arts and engineering with sound? How can it be improved?

 

Statement 1: “A hierarquia de gênero ainda é um dos principais estorvos do sistema educacional que tem impactos negativos na formação e inserção de mulheres nestas áreas. O conhecimento sempre foi uma ferramenta e teceu as relações de poder e opressão, neste sentido, as estruturas do sistema patriarcal são mantidas e reforçam as  desigualdades de gêneros, para que os homens permaneçam nesta posição privilegiada e de poder.” Antonilde Rosa

 

Statement 2: “de uma maneira geral acho que o peso maior já vem da cultura onipresente, ao chegar na sala de aula, qqr indício (indication) que essa cultura será re-afirmada já tem o dobro, triplo do peso. portanto, talvez “neutralizar” o novo território com exemplos de diversidade e visibilidade femininas possam ajudar a estabelecer uma relação de confiança (trust, confidence) e igualdade que talvez seja “mais segura” que o ambiente externo e talvez isso possa abrir um espaço de confiança para as garotas nos campos da ciência e tecnologia ainda que a sociedade não o forneça, por exemplo”. Vanessa de Michelis

 

3. Discussion: the inexistence of models and references:

One of the issues that may be preventing women from engaging in some particular disciplines is the lack of models and references from other women working in these disciplines. For this reason, the existence of groups and associations (sororities) is key to creating a sense of belonging and empowerment of women. It is important to have exclusive spaces where women can create their own ideologies.

 

Statement 3: “quando comecei, só eu de mulher, calada, insegura, reprimida. Com o tempo, procurei buscar ferramentas de existir naquele espaço; comecei a levar amigas naquele espaço; única interlocução possível era de homens; se tornou protagonista naquela situação; ofinicas tinham 90 % homens.;Hoje tem maioria de mulheres, alunas” Vanessa de Michelis

 

4. Discussion: Idealisms  

Girls feel the need and even the obligation to be the best, to stand out, to be successful. Participation in collective situations is seen as a risk because the fear of exposure.

 

5. Discussion: What happens in the music/sound tech classroom?

 

Statement 4: Harmony Class (UniRio): “A performance em sala de aula das garotas, apesar de seu entendimento ser o mesmo que a dos rapazes, é eclipsada pelos meninos que “são bons em harmonia” – em geral os músicos de MPB. Ou seja, esses participam da aula, numa atitude de desafio ao professor (assim eu percebo). Naturalmente, dominam a cena. No entanto, a única garota que faz MPB não tem essa atitude e é muito tímida (…) Pela harmonia os homens ligados a composição ou arranjo se exibem – e eclipsam a performance das meninas e dos demais músicos. Como dominam a cena, se o professor não perceber o jogo estará acentuando a divisão, como num ciclo vicioso. Significativo é que, conforme percebo, com esse jogo exibicionista os homens “bons em harmonia” disfarçam o trabalho mal feito ou sua ausência (eles já sabem, não é mesmo?0, enquanto que as meninas garantem esse trabalho.”  Alexandre Fenerich

Statement 5: – Music/sound Tech Class (UFRJ): “quando dei aula de tecnologia musical (como substituto na ufrj) tive uma turma de 16 alunos dos quais apenas uma era mulher. Na primeira aula eu apresentava o curso e tentava entender qual o interesse dos alunos, quando acabou a aula essa aluna esperou todos saírem e veio me perguntar se eu achava que ela era capaz de fazer o curso. Eu, sem entender bem pq ela estava me perguntando aquilo, falei que claro que sim pois o curso não tinha pre-requisitos e que ela, assim como os outros alunos, podia me ajudar a fazer com que o curso não fosse difícil demais. enfim, ficar a vontade para perguntar coisas, perguntar por email, conversar depois da aula etc. Ela parecia interessada, continuou vindo às aulas, sempre fazia muitas anotações (muito mais do que os outros alunos), eventualmente perguntava alguma coisa no fim da aula (nunca na frente dos outros alunos) mas quando chegou o prazo para trancamento (umas 5 ou 6 semanas depois do início) ela trancou e não apareceu mais. Disse que ficou com medo de ser reprovada. Dos 16 alunos dessa turma só dois trancaram, o outro era negro e, apesar de se comportar de forma bastante diferente da menina, também era claro que via mais barreiras no seu caminho do que os outros 14 alunos (por exemplo ele foi o único da turma a ver como uma barreira o fato de alguns dos softwares serem em inglês, dentre os outros vários tb não entendiam inglês mas tinham autoconfiança de que iriam se virar). O que me parece é que, por parte do professor, apenas evitar comportamento machista não basta para evitar esse clima de clube do bolinha em certas disciplinas. Mas não sei bem o que mais poderia ser feito. Acredito que trazer exemplos de mulheres ajude, mas em aulas mais técnicas, onde raramente se usa exemplos de repertório, essa não é uma opção. Trazer a questão para a sala de aula parece ser uma excelente sugestão, mas tentando ser realista, acho que isso não é pra todo mundo, eu pelo menos não sei se seria capaz disso hoje. É um tema bastante delicado, no caso que contei por exemplo desconfio que seria bastante constrangedor para a aluna em questão, que fazia o máximo para não chamar atenção para si. Além disso isso envolve um enfrentamento gigante, não apenas dos alunos e da instituição que é sempre conservadora, mas também de vertentes feministas que julgam que o homem não é apropriado para lidar com essas questões (e talvez não seja mesmo, sei lá…). Enfim, sendo honesto aqui, eu teria medo de acabar piorando a situação. Pensando alto, será que medidas radicais como aulas exclusivas para mulheres seria um caminho, especialmente nestas disciplinas em que existe uma disparidade evidente? Lembrei de um caso anos atrás quando eu era aluno de uma escola estadual de música no RJ em que um professor de percussão criou uma bateria exclusiva de mulheres (foi muito criticado, claro), e em poucos meses a quantidade de percussionistas mulheres na escola disparou, algumas meninas seguiram carreira inclusive.” Davi Donato

 

III. Proposals:

It is essential to encourage the diversity of viewpoints and social roles. We must make visible the existence of different ethnic groups, ages, social classes. For this, it is necessary to stimulate the coexistence with the diversity of genders, races and ideologies. At the same time, we must sensitize students about gender issues and  develop a process of visibilization of girls.

 

Considering that the classroom is also a political space, a space of power and of construction of citizenship, it is necessary to develop a political sense, an awareness of the construction of female identity. This identity is not something already set, but a process of becoming-a-woman. The construction of this identity is necessary for the empowerment of girls. The motivation to study will come from self-esteem and self-confidence.

 

We must be careful not to encourage chauvinist and sexist actions or promote gender inequality. We must avoid the pressures that act to the silencing of women’s bodies and voices. We should not determine the places and territories that girls should take, as this is a matter of personal choice and affinity.

 

To promote micropolitical actions and autonomy: To return to spaces that were exclusively occupied by women; retrace their paths, the places in which they were alone, where they had no access to references. Redesign these contexts.

To recover.

 

Other actions:

Find girls and empower them. Identify potential replicators.

Create unique spaces for women. Create spaces that are complementary to the ones that are predominantly male. In the contexts where female examples and references are absents, transform these contexts so that they provide conditions for the participation of girls. We should not rely only on our point of view. We need to interview girls and boys about what they want for these spaces.

 

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Visões – “Relato e debate sobre o Fórum WISWOS – Educating gilrs in sound”, com Lílian Campesato (Divulgação)


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Sonora convida para mais uma edição da série Visões na próxima segunda-feira, 09/05, às 17h30, na Sala do Nusom. Nesse encontro teremos um relato seguido de debate sobre os temas tratados no FórumWISWOS (Women in sound Women on sound: Educating girls in sound) que aconteceu no dia 22 de abril na Universidade de Lancaster, Reino Unido.

O relato e o debate serão conduzidos pela artista e pesquisadora Lílian Campesato que participou do Fórum no ano de 2016. A ideia é recuperar as contribuições que toda a rede Sonora deu para a apresentação no Fórum frente ao que foi proposto e discutido no âmbito do WISWOS. Para isso, iremos aprofundar as reflexões e propostas referentes à educação das garotas, à promoção de visibilidade, à falta de modelos e a tantos outros temas discutidos. De uma maneira sintética os assuntos discutidos durante o WISWOS 2016 passaram pelas seguintes perguntas:

  1. Que impacto os sistemas educacionais têm nas jovens garotas que as impedem de se dirigir aos campos da ciência, tecnologia, artes e engenharias com som e composição? Como isso pode ser modificado / melhorado?
  2. O que acontece nas salas de aula de música (composição) / engenharia de áudio, música e tecnologia, etc?
  3. Em que ponto (quando) observamos uma mudança do mesmo nível de interesse (em relação aos meninos) para pouco interesse (nessas áreas e aulas)?
  4. Que iniciativas já existem para encorajar as garotas a participar / se envolver?
  5. O que nós podemos e o que nós não devemos fazer a esse respeito?

Lílian Campesato é musicista e pesquisadora com ênfase na experimentação de meios híbridos e não usuais de criação sonora, especialmente performances. Seus trabalhos exploram o uso da voz e gesto combinados a recursos eletrônicos e audiovisuais interativos. Realizou doutorado na Universidade de São Paulo com a tese “Vidro e Martelo: contradições na estetização do ruído na música”, que trata de diferentes concepções sonoras na música e nas artes a partir das relações de incorporação e rejeição do ruído. Realizou pós-doutorado junto ao NuSom  (Núcleo de Pesquisas em Sonologia da Universidade de São Paulo) o com uma pesquisa que investiga os discursos acerca dos contornos e limites da música. Foi uma das criadoras do Sonora, um grupo dedicado à discussão da participação das mulheres na música.Website: http://liliancampesato.tumblr.com

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Ata da 9ª Reunião (09/05/2016) Série Visões com Lilian Campesato

Relatos de Lilian Campesato em Lancaster durante o “Women in Sound, Women on Sound Forum: educating girls on sound

  • Lilian contou que foi a única participante do Hemisfério Sul.
  • O Fórum durou um dia na Universidade de Lancaster. É o segundo ano do evento.
  • O evento foi criado porque xs organizadorxs perceberam que havia um desequilíbrio entre a quantidade de meninos e meninas nas universidades de música.
  • Foram realizados workshops, fóruns de discussões, palestras e concertos.
  • Participaram também adolescentes da comunidade, alunxs de conservatórios, escolas de música em geral.
  • Foram apresentadas keynotes sections com Anna Xambó e Liz Dobson. Estas palestras abordavam o acesso das meninas ao universo da experimentação sonora, a visibilidade das mulheres neste âmbito, etc. Não foi observada a preocupação em relação a outros campos em que as mulheres se sentem excluídas.
  • Xs participantes foram divididxs em grupos para discussão de perguntas pré-estabelecidas. Entre os questionamentos estava a trajetória musical de cada um(a). A composição destas mesas variava a cada pergunta. Tinha uma adolescente da rede pública em cada mesa.
  • Houve um momento para que representantes das mesas apresentassem as conclusões a que cada grupo chegou.
  • Havia uma única pessoa negra no evento, uma mulher, que foi representante de uma das mesas.
  • Problemas e possíveis soluções foram elencados e discutidos.

Tópicos discutidos depois da apresentação de Lilian sobre o evento:

  • Questão de privilégios.
  • Questão da falta de modelos de outras mulheres na música.
  • O impacto que o sistema educacional vigente exerce na exclusão de meninas de certas atividades.
  • A inclusão de mães nas atividades musicais.
  • A sensibilização dx outrx para questões que teoricamente não lhe pertencem.
  • A importância de espaços exclusivos para meninas, para mulheres negras, para minorias se colocarem e se fortalecerem.

Planejamento das próximas reuniões:

  • 16/05 – Reunião interna
  • 23/05 – GE com texto de Rosane Borges
  • 30/05 – Interna
  • 06/06 – Série Visões com Rosane Borges?

Link da transmissão:

 

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Visões – “Resistência e feminismos indígenas”, com Léa Tosold (Divulgação)

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Sonora convida para mais uma edição da série Visões na próxima segunda-feira, 16/11, às 10h30, na Sala do Nusom. Nesse encontro, receberemos a pesquisadora Léa Tosold com o tema “Resistência e feminismos indígenas”.

A proposta é estabelecer um diálogo com os feminismos indígenas de maneira a permitir o questionamento de dualismos e formas estanques de ação política, bem como ampliar uma perspectiva crítica sobre o cotidiano enquanto político. A partir de exemplos da atuação de movimentos feministas em processos de resistência, será apontada a importância da abertura e do cultivo de esferas de compartilhamento em coletivo.

Léa Tosold é pesquisadora do Departamento de Ciência Política (DCP-USP), integrante do Gepô (Grupo de Estudos de Gênero e Política do DCP-USP) e do Comitê Paulista de Solidariedade à Luta pelo Tapajós, coletivo autônomo que busca fortalecer o processo de resistência dos povos indígenas, ribeirinhos e tradicionais ao projeto de construção de um complexo de hidrelétricas na região. Suas áreas de atuação são: teoria política e feminismos; interseccionalidades; políticas de diferença; epistemologias feministas; capitalismo, feminismo, territorialidades e violência; movimentos indígenas latino-americanos.

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Visões – “Musicologia Feminista: Susan McClary e Suzanne Cusick”, com Tânia Neiva

Neste encontro eu fiz uma introdução à chamada musicologia feminista abordando o contexto acadêmico de surgimento da área, as principais visões e metodologias adotadas pela musicóloga feminista Susan McClary em seu livro Feminine Endings: music, gender and sexuality (lançado em 1991) e a crítica realizada à abordagem de McClary pela musicóloga feminista Suzanne Cusick. A fala foi baseada em uma comunicação realizada por mim, no mesmo ano (2015), na ANPPOM, intitulada: A musicologia feminista de Susan McClary e a crítica de Suzanne Cusick.

Eu comecei a me interessar pela questão da mulher na música durante minha segunda pesquisa de Iniciação Científica, realizada na Unicamp sob orientação da compositora Profa. Dra. Denise Garcia. Na época (2002-2003) analisei duas peças para piano solo da compositora Eunice Katunda. Durante a pesquisa percebi algumas lacunas na história da compositora e dificuldade em encontrar bibliografia – sobre Eunice Katunda, tinha pouca coisa escrita mas havia sido recém lançado o livro biográfico escrito pelo pesquisador Carlos Kater. Percebi também como a compositora era desconhecida mesmo do público de músicos e estudantes de música. Comecei a notar a quase inexistência de alunas de composição em cursos universitários de música no Brasil. Isso me levou a pesquisar, no mestrado (2004-2006), a inserção das mulheres no campo da composição musical erudita no país. Realizei cinco estudos de caso: Jocy de Oliveira, Maria Helena Rosas Fernandes, Vânia Dantas Leite, Marisa Resende e Denise Garcia, sob orientação da Profa. Dra. Lenita W. Nogueira. O que havia percebido intuitivamente, pela observação, pude confirmar através de estatísticas, relatos, trajetórias e, muitas vezes, pela ausência de dados e documentos.

Depois do mestrado fiquei um tempo afastada da academia me concentrando em tocar cello e dar aulas. Mudei de cidade com meu companheiro, Valério Fiel da Costa e tivemos um lindo filho, agora com três anos. Em 2014 fui chamada novamente para a academia. Vinha trabalhando desde 2013 com um grupo de performance e tenho me envolvido cada vez mais com a música experimental. Novamente as questões sobre as mulheres no campo da música voltaram! Dessa vez, no campo da música experimental: Quem são elas? Por quê é tão difícil, num primeiro momento, lembrar de nomes de mulheres fazendo música experimental? Atualmente estou realizando minha pesquisa de doutorado na UFPB sob orientação do Prof. Dr. Didier Guigue e co-orientação da Profa. Dra. Adriana Fernandes. E o tema da pesquisa surgiu como consequência da minha trajetória de pesquisadora e de artista, agora, com muito mais consciência das minhas escolhas ideológicas, políticas e acadêmicas, assumo com orgulho o termo feminista. Acredito que ele traz em si uma força para mudança e transformação para uma sociedade mais justa, representativa e igualitária!

Em 2014 iniciou-se uma discussão no facebook proposta por Lilian Campesato que deu origem ao nosso querido grupo Sonora! Aqui em João Pessoa iniciamos um grupo de estudos presencial sobre música e gênero! A Sonora e o nosso grupo de estudos daqui, têm se configurado como espaços de reflexão, discussão e ação de grande importância para mim!

Obrigada por toda a riqueza e variedade de pessoas e questões que aparecem na Sonora e pela oportunidade de compartilhar um pouco da minha pesquisa e da minha trajetória!

 

Referências

 

Transmissão