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Ata de ESCUTA: “Compositoras Latino-americanas” um recital-conversa com Eliana Monteiro da Silva

O recital-conversa “Compositoras Latino-americanas” inaugurou, no Auditório Olivier Toni da ECA-USP, uma série há muito idealizada pela Rede Sonora, que enfoca a performance ao vivo seguida de entrevista – ou de conversa. Esta apresentação da pianista Eliana Monteiro da Silva trouxe um pouco da sua antologia “Compositoras Latino-americanas: vida – obra – análise de peças para piano”, pesquisa de Pós-Doc realizada no Depto. de Música da ECA entre 2016 e 2018, sob supervisão do Prof Amilcar Zani e a colaboração da professora de piano Heloisa Zani.

Para esta antologia Eliana analisou 20 peças de autoras de 9 países da América Latina, compostas entre o fim do séc. XIX e o início do XXI, com intuito foi mostrar a participação das mulheres na criação da música erudita deste continente. O recorte de tempo se deveu ao fato de ser neste período que a música latino-americana adquiriu características próprias. O formato das pesquisas e a escolha das obras priorizou a maior variedade possível de estilos, linguagens, técnicas e períodos de composição, a fim de dar a conhecer um leque de possibilidades explorado pelas compositoras da América Latina.

Eliana falou um pouco de cada peça que tocou e, ao final, alunxs, professorxs e público em geral fizeram perguntas, comentários, o que quiseram. Foi muito rico aproveitar a oportunidade de que uma das compositoras do programa estava presente, a Valéria Bonafé, que pôde esclarecer algumas dúvidas a respeito de suas peças e da inserção das mesmas no cenário musical.

O evento contou com o apoio e participação dxs professorxs da disciplina “Laboratório de Interpretação e Criação Musical Contemporânea”, em especial do Prof. Silvio Ferraz, e com o tradicional apoio do NuSom. As peças interpretadas foram:

 

  1. Preludio n. 1, da mexicana Gabriela Ortiz, composto por volta de 2005. Peça que integra o ciclo Estudios entre Preludios da compositora, em que ela homenageia mestres da música erudita ocidental como Ligetti, Cage, entre outros. Este preludio tem influência das sonoridades impressionistas de Debussy, com seus modos simétricos, mas também, segundo Gabriela em entrevista a Eliana, da sensualidade harmônica de Toru Takemitsu. A compositora é também autora de várias óperas com temáticas feministas.
  2. Sonatina, da brasileira Eunice Katunda, composta em 1946 e revisada em 1965. Obra em 3 movimentos, todos baseados em 2 motivos apresentados na Introdução do primeiro, apresentado no recital. Eunice, que viveu entre 1915 e 1990 – portanto, quase todo o século -, compôs em quase todos os estilos. Era uma mulher radical, que entrava de cabeça em tudo o que se propunha. Assim foi no Grupo Música Viva, do qual fez parte, e depois no movimento que resgatou o Nacionalismo na década de 1950, liderado por Camargo Guarnieri. Esta Sonatina marca o ano em que ela ingressou no Música Viva, embora não seja dodecafônica, marca registrada do grupo de Koellreutter. É uma obra atonal livre.
  3. Graciela Paraskevaídis nasceu na Argentina em 1940 e mudou-se para o Uruguai em 1975. Lá faleceu de câncer em 2017, deixando uma extensa obra musical e literária acerca da música latino-americana. A peça …a hombros del ruiseñor, interpretada por Eliana, foi criada em 1997, no período de redemocratização da maioria dos países do continente. É dedicada ao guerrilheiro Che Guevara e seu título faz menção ao verso “Rouxinóis de novo” (ruiseñores de nuevo), de Juan Gelman, poeta que teve os filhos e a esposa sequestrados durante a ditadura militar. As letras C H e E, de Che, estão no motivo principal de … a hombros, formado pelas notas Do (C), Si natural (H) e Mi (E). Os silêncios e as frases que terminam em suspensão aludem à falta de respostas para a aflição dos inúmeros pais e mães cujos filhos desapareceram neste período trágico da nossa história. Graciela foi também responsável pelos sites latinoamerica-musica.net e www.gp-magma.net. Integrou a equipe organizadora dos Cursos Latinoamericanos de Música Contemporánea, do Núcleo Música Nueva de Montevideo e da Sociedade Uruguaya de Música Contemporánea.
  4. O Estudo Brasileiro n 1 foi composto pela brasileira Cacilda Borges Barbosa em 1950. Faz parte de uma série de estudos com finalidade didática que a autora criou para trabalhar dificuldades diversas. Este, especialmente, enfoca a polifonia, os grupos alterados e a independência entre as linhas melódicas. Cacilda foi da equipe de trabalho de Villa-Lobos e posteriormente dirigiu o Instituto Villa-Lobos no Rio. Foi também uma das primeiras a trabalhar com fitas magnéticas e música eletrônica no Brasil.
  5. O ciclo Do livro dos seres imaginários, da brasileira Valeria Bonafe, foi inspirado na publicação homônima do escritor argentino Jorge Luis Borges. Composto em 2010, traz nas 4 peças os personagens Kami, ser sobrenatural que jaz sob a terra; Odradék, ser formado por pedaços de linha e que não se deixa capturar; Shang Yang, pássaro da chuva que fica numa pata só; e Haokah, Deus do trovão. O ciclo foi escrito para piano preparado, sendo só a peça Shang Yang escrita sem utilizar os sons modificados pelo preparo. Esta peça faz uso do pedal tonal. Valéria é membra da rede Sonora e professora da EMESP.

Equipe organizadora do ESCUTA:

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Escuta: “Compositoras Latino-americanas” – um recital-conversa com Eliana Monteiro da Silva

Eliana Monteiro da Silva é pianista, professora e pesquisadora. Bacharel em Piano pela Faculdade de Música Carlos Gomes, fez Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado em Música na Escola de Comunicações e Artes da USP, sob orientação do Prof. Amilcar Zani. Suas pesquisas enfocam a atuação da mulher na produção pianística ocidental, sendo autora do livro “Clara Schumann: compositora x mulher de compositor”, da tese “Beatriz Balzi e o piano da América Latina” (FAPESP), e da antologia “Compositoras latino-americanas: vida – obra – análise de peças para piano”, a ser publicada em e-book este ano pela Editora Ficções. Atua como professora particular de piano, ministrou os cursos “Sons e Imagens da América Latina I e II” no Instituto Cervantes com o pintor Juan José Balzi, participou como organizadora e palestrante do projeto “MusiMAC: arte contemporânea para ver e ouvir” em parceria com Ana Gonçalves Magalhães e Amilcar Zani e integra o quadro de docentes da Pós-Graduação da ECA com a disciplina “Música Erudita do século XX na América Latina: aspectos históricos e analíticos”, juntamente com Amilcar Zani e Heloísa Fortes Zani. Em 2017 foi indicada pela FUNARTE para representar o Brasil no III Coloquio de Investigación Musical Ibermúsicas no Chile, com a temática “Música y mujer en Iberoamérica: haciendo música desde la condición de género”. Sua militância artística pela maior visibilidade da mulher na música inclui a participação no Duo Ouvir Estrelas (www.duoouvirestrelas.com), com a cantora Clarissa Cabral, na rede Sonora – músicas e feminismos (www.sonora.me) e no grupo Polymnia (www.polymnia.webnode.com).

 

PROGRAMA
1. Gabriela Ortiz (Mexico) – Preludio I, do ciclo Estudios entre Preludios
2. Eunice Katunda (Brasil) – Sonatina (1º movimento)
3. Graciela Paraskevaídis (Argentina/Uruguai) – …a hombros del ruiseñor
4. Cacilda Borges Barbosa (Brasil) – Estudo Brasileiro n 1
5. Valéria Bonafé (Brasil) – Do livro dos seres imaginários: Kami, Odradék, Shang Yang e Haokah. 
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Visões

Ata da reunião de 17/09/2018 – Visões com Carô Murgel

“Cartografias da canção feminina: compositoras brasileiras no século XX”

Carô Murgel é cantora, historiadora, Doutora em História Cultural e Pesquisadora Colaboradora do Depto. História IFCH/Unicamp. Sua pesquisa de Doutorado foi orientada pela Prof.a Margareth Rago e enfocou o gênero na canção brasileira.

Carô começou sua fala explicando a diferença entre gênero e sexo: o 1º é uma construção social, um discurso sobre as mulheres, e isso se nota muito claramente na canção popular. Outra construção é este abismo entre a música popular e a erudita, cuja linha, na canção principalmente, é bem tênue. A pesquisadora conta que as compositoras lidam mais livremente entre as duas vertentes. Justamente porque nada disso é natural, é tudo artificial. As mulheres e seus instintos, tudo é exacerbado, além do que é, de fato, inventado. Até no movimento operário a maior parte era composta por mulheres. Mas nos referimos ao movimento operário, no masculino.

Mulheres públicas não eram vistas como mulheres de bem, eram tidas como prostitutas, enquanto homens públicos podiam e podem ser deputados, ministros, diplomatas e o que mais quiserem.

O apagamento das compositoras

A ciranda nasce com as mulheres, que esperavam seus maridos na praia com as crianças. O samba de roda também. A umbigada também era uma dança majoritariamente feminina: uma dançava sozinha até dar uma umbigada em outra mulher da roda, que entrava e dançava com ela. Somente quando elas se cansavam os homens entravam.

Nos séculos XVIII e XIX as mulheres criavam coletivamente os cantos de trabalho. O samba, por exemplo, chega ao Rio de Janeiro pela voz das negras que vinham do Recôncavo Baiano e de outras localidades. Tia Ciata é deste tempo, e foi uma das tantas mulheres esquecidas/apagadas no registro histórico musical. Carô encontrou pistas desta e de outras compositoras em artigos de jornal e até em partituras de acervos dentro e fora do Brasil.

O 1º rock brasileiro foi composto em 1957 por Carolina Cardoso de Menezes e se chamou “Brasil Rock”. Outro exemplo de apagamento é a Lina Pesce, autora de “Bem-te-vi atrevido”, de 1942. Esta peça foi citada por Hermeto Paschoal como sendo da autoria de Pixinguinha!

Rude franqueza

Alda Garrido, compositora nascida na virada do século, canta uma obra em resposta ao que se falava das mulheres. De autoria desconhecida, “Rude franqueza” fala que o homem, para ser bom, deveria nascer morto. Esta letra chocou a sociedade, embora existam inúmeras composições em que homens expressam o desejo de matar a mulher.

O apagamento das mulheres como autoras fica nítido no caso de Carmen Miranda, parceira de Pixinguinha na canção que fala “Comigo não, violão”, cuja autoria é questionada por seu biógrafo Ruy Castro. Carô conta que não há um único documento que negue a criação de Carmen Miranda, então por que a dúvida?

Ambiente familiar

Os pais de Carô a criaram ouvindo música. Ela observa que isso é raro atualmente, filhos e filhas não ouvem música com a família. Cada um tem seu fone, sua fonte, seu aparelho. Esta também é uma razão para seu conhecimento de obras da 1ª metade do século XX. “Melodia Sentimental”, de Dora Vasconcelos e Heitor Villa-Lobos, era uma das músicas preferidas de seu pai. Dora fez várias letras para canções de Villa.

Inezita Barroso, intérprete muito conhecida, lançou um disco em 1958 somente com obras de mulheres. Ela gravou, por exemplo, “Maria Macambira”, de Babi de Oliveira e Orádia de Oliveira. A música conta a história de uma lavadeira que morre no mar, “lavando as roupas de Yemanjá”.

Almira Castilho, parceira de Jackson do Pandeiro entre 1955 e 1967, teve a autoria de “Chiclete com Banana” questionada pelos historiadores. Mas o fato é que, após a dupla se separar, Jackson compôs um total de 4 obras.

Aylce Chaves, parceira de Paulo Marques na canção “Lama”, reclama na mesma o peso de ser difamada, de ter seu nome “na lama”. Ela é uma das tantas compositoras que não tem registro biográfico disponível.

Assinando em segredo

Muitas compositoras colocavam pseudônimos masculinos para vender suas peças. Isso dificulta mais ainda encontrar suas trajetórias. Carô conta que também há muitas mulheres cuja obra ficou na gaveta. Sua própria avó é uma delas. A pesquisadora fala que compilou mais de 7.000 compositoras em seu trabalho, até que decidiu encerrar temporariamente a investigação a fim de divulgar os resultados. Ela espera que mais pessoas deem continuidade e ampliem sua pesquisa, para o que disponibiliza informação online e ainda se oferece para enviar material impresso a interessadxs.

1 por cento

No encontro de hoje, Carô Murgel mostrou e dissertou sobre, em média, 70 compositoras. Isso corresponde a 1% do total de mulheres incríveis que ela encontrou pelo caminho. Ela conta que, atualmente, há uma profusão de compositoras advindas das igrejas. Muitas delas, embora não se possa generalizar, utilizam a música para incentivar suas pares a se submeterem ao patriarcado em pleno século XXI.

Acervos

Os acervos estão sob risco, por falta de recursos e descaso administrativo. Carô recomenda que interessadxs procurem editoras responsáveis pela publicação dos discos e livros para saber sobre as compositoras. Outra fonte é o ECAD, de direitos autorais. Ela teme que os arquivos existentes possam se perder como museus que sofreram avarias por falta de manutenção.

Famílias e direitos autorais

Muitas famílias detêm direitos de compositoras e dificultam a divulgação de suas obras. Algumas vezes o dinheiro serve de desculpa para que não se divulgue a artista, sua vida, suas escolhas. As compositoras vivas, ao contrario, em geral são generosas e gostam de saber do interesse alheio por sua produção criativa. Ainda assim, Carô aponta a necessidade das mulheres de pesquisar as compositoras. Ela diz que nós temos que fazer isso, ninguém o fará no lugar das mulheres.

Mulheres interrompidas

As mulheres já iniciam suas carreiras com sobrecarga. Elas têm, tradicionalmente, que interromper sua pesquisa, seu trabalho ou seu descanso para atender à família, à comunidade, cuidar. De acordo com Carô Murgel isto as faz cultivar uma linguagem, por vezes, fragmentada. Há um interesse político em manter as mulheres em posição de submissão, para conservar os privilégios masculinos.

A revolução virá pelas mulheres

Apesar de estarmos passando por tempos sombrios na cultura e no país, a pesquisadora é otimista em relação à atuação das mulheres e seu potencial de mudança. Ela entende que tudo é política, o posicionamento das mulheres e suas conquistas não podem ser apagados.

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Visões: “Cartografias da canção feminina” – com Carô Murgel

Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel (Carô Murgel) é  Doutora em História Cultural pela Universidade Estadual de Campinas, onde fez toda sua formação, incluindo o pós-doutorado, no qual pesquisou as compositoras brasileiras que atuaram durante o século XX.
Foi violonista e cantora, dedicando-se à pesquisa e divulgação da Música Popular Brasileira. É idealizadora e mantenedora do site MPBNet. Atuou como Supervisora no curso de História da Rede São Paulo de Formação Docente (REDEFOR), parceria da Unicamp, USP e UNESP com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Foi coordenadora do GT de Estudos de Gênero da ANPUH-SP na gestão 2012-2014 e é colaboradora desde 2012 na elaboração, correção e apresentação da Olimpíada Nacional de História do Brasil (CNPq/IFCH-Unicamp). É Pesquisadora Colaboradora junto ao Departamento de História do IFCH/Unicamp.
Atua na área de História Cultural, com ênfase em gênero, feminismo, subjetividades, canção popular brasileira e compositoras brasileiras.
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Operacional

Ata da reunião de 10/09/2018 – Operacional

A reunião de hoje teve uma convidada, a cantora e pesquisadora Ligiana Costa, que veio para falar de projetos junto à OSUSP, na esteira do que foi falado no último encontro sobre o novo regente Fabio Cury e suas ideias para a orquestra. Como o Fabio havia se aproximado da Lilian para inserir a temática de gênero na programação, as duas – Lilian e Ligiana – pensaram em fazer uma proposta com a Sonora.

Entre os desejos para esta proposta, um seria o de mexer com a própria estrutura da orquestra valorizando a participação das mulheres do grupo. Outro seria inserir sons eletrônicos, sons do universo pop, sonoridades contemporâneas. Além disso, estender o projeto de recital para oficinas paralelas ligadas às mulheres.

A chamada seria para compositoras, uma arranjadora, iluminação, vídeo, concepção e produção do projeto. A Sonora poderia indicar mulheres para estes lugares.

Ficou combinado que faremos um novo encontro para discutir esta proposta, com um esqueleto já delineado. Este esqueleto será formulado a partir de um esboço formulado pela Ligiana e enviado ao email sonoramulheres para ver quem quer participar e como.

Depois disso, a pauta foi a seguinte:

Calendário

  • Carô Murgel – Visões dia 17/9. Como ela não enviou a mini bio e a foto pedidas, Eliana ficou de mandar para Marina até quarta-feira. Caso contrário, vamos usar foto e bio disponíveis na internet. O nome do Visões deve ser “Cartografias da canção feminina”, título da tese dela. Marina fará o flyer de divulgação e Eliana postará no site e no facebook.
  • Eliana – Recital-conversa “Compositoras Latino-americanas” dia 24/9. O nome da serie será “Escuta:”. Marina ficou de fazer flyer de divulgação. Valéria e Tidi se comprometeram a montar os equipamentos de gravação para registrar o evento. Valéria ficou de perguntar ao Silvio sobre o preparo do piano.
  • Bella foi convidada a fazer um projeto para a serie “Experimenta”. Ela ficou de bolar uma oficina e enviar a proposta por whats.

Informes

  • Natalia Fragoso – Valeria trouxe o tema para a pauta. Natalia é compositora, mora no Canadá e estará no Brasil em novembro. Ela participará de um evento da serie Vozes, para o que precisa de uma carta-convite. As datas possíveis são 5/11 ou 12/11.

Radio

  • Flora H. trouxe o que ela e a Tidi prepararam para o programa. Uma dúvida que se aventou é se as peças principais podem ou não ser cortadas para dar lugar a trechos das entrevistas ou não. Tidi e Flora acharam que sem interromper as peças ficam blocos muito longos de uma e de outra compositora. Valéria disse que não se importa e Mariana disse que a Alma também já havia dito que não se importava.
  • Foi colocada uma primeira montagem do programa para ouvirmos na reunião.

Inserção de nomes no site

  • O assunto foi debatido novamente e deve ser retomado em reuniões futuras.
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Operacional

Ata da reunião de 20/08/2018 – Operacional

A reunião de hoje teve 3 convidadas de um grupo de estudos da UNESP, estudiosas das questões de gênero na música. Elas expuseram seus anseios e as razões pelas quais formaram o grupo. Elas perceberam a maior ausência de mulheres nos cursos de composição e regência, além da evasão de estudantes destes cursos – principalmente mulheres. O grupo de estudos delas se chama Vozes Inaudiáveis. Elas estão em busca de repertório de mulheres para inserir nos concertos, etc. A Sonora se interessa muito em juntar forças com este grupo.

Além delas, a Tide Borges integrou o encontro e pretende estar mais presente nas reuniões da rede. Ela falou da importância de falar sobre as histórias das mulheres, entre outros, porque quando a gente fala a gente também se ouve.

Foi apresentado um breve resumo das atividades da Sonora para as novas integrantes. Logo após esta introdução, passamos aos informes.

 

Informes

  • Fabio Cury, fagotista, é professor da USP e está responsável pela direção artística da OSUSP. Ele procurou a Valéria e a Lilian para conversar sobre seus planos para a orquestra, com a intenção de modernizar um pouco o repertório habitual da mesma e de aproximar o grupo do Depto. de Música. Ele já se aproximou do Rogério para fazer projetos com a Orquestra Errante e do Fernando para fazer projetos com o NuSom. Agora pensou em fazer alguma atividade com a Sonora, para estimular a participação de mulheres e estimular repertório de compositoras.
  • Ligiana Costa procurou a Lilian para fazer uma parceria com a Sonora para apresentar algo no SESC. Ela pensa em unir a OSUSP, a Sonora e seu duo, chamado NU. Uma ideia seria chama-la para um evento da serie Vozes, para conhecer melhor seu trabalho.

 

Propostas de calendário

  • Existe o desejo de fazer um encontro sobre maternidade com o Coletivo Feminista. Flora ficou de ver uma data comum para a rede e o coletivo.
  • Há também o projeto de conversar sobre assédio no Depto. de Música da ECA. Vamos retomar este assunto oportunamente.
  • Sobre calendário, há um desejo de fazer um concerto com obras de Vânia Dantas Leite. A dificuldade é arranjar o material, gravações, etc. Davi disse que a UNIRIO deve estar preparando um evento em torno da Vania, poderíamos entrar em contato com quem estiver organizando e talvez espelhar o evento aqui em SP. Há a turma de eletroacústica, do Fernando Iazzetta. Lilian ficou de falar com o Alexandre Fenerich para abordar o assunto. Se nada for possível, faremos um grupo de estudos sobre a Vânia.
  • Para o dia 24/9 falta definir o nome da serie de concertos que será aberta com o recital da Eliana. Uma proposta seria “Sonora Concerta”, ou “Concerta Sonora”, entre outras.
  • A ideia de chamar a Carô Murgel para falar de sua pesquisa de Doutorado sobre compositoras brasileiras pode gerar um Visões. Eliana enviou uma mensagem pelo Facebook sugerindo as datas 10 e 17/9.
  • Teca e Suzana Igayara estão na lista de convidadas.

 

Radio

  • Foi apresentado à Tide Borges um relato sobre o programa que está sendo montado com a Valéria e a Alma.
  • Valéria se comprometeu a mandar a própria bio para o programa.
  • A próxima reunião ficou marcada para as 15:00h. Flora se comprometeu a trazer o material para editarmos.

 

Inserção de nomes no site

  • Ainda temos que discutir melhor como fazer isso, já que poucas pessoas responderam manifestando sua vontade.

 

 

 

 

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Eventos

Ata da reunião de 17/08/2018 – Women in Sound: Linda O’Keeffe & Isabel Nogueira (evento Sonora / NuSom)

O evento de hoje reuniu duas musicistas, artistas e pesquisadoras em torno da temática de gênero. Elas estão desenvolvendo um projeto conjunto, financiado pelo British Arts Council e pelo CNPQ. Este projeto pretende desenvolver uma prática artística baseada em processos feministas, bem como criar uma metodologia inovadora para o envolvimento da comunidade com mulheres e meninas.

Linda iniciou o evento falando de sua atividade e experiência, e sobre como esta coincide com a de Isabel Nogueira em alguns pontos, o que possibilita esta conversa conjunta.

Linda trabalha com o som como material, como um elemento artístico e visual. Ela estudou Artes Plásticas e fez a intersecção entre as linguagens. Trabalhou em instalações e trabalhos artísticos envolvendo dança, radio, performance, entre outros, por uns 5 anos. Depois disso fez uma 2ª pós-graduação em comunicação e tecnologia que envolve o som, em Chicago.

Chegou a Chicago em 2008, num momento político bastante instável. A cidade tem um sério problema racial, de preconceito e racismo. Linda não entendia isso naquela época, mas veio a perceber com o tempo. Quis pesquisar esta relação social entre adolescentes, pessoas menos favorecidas economicamente e comunidades e seu trabalho. Estudou metodologias ligadas a este tipo de pesquisa.

Algumas de suas pesquisas envolvem instalações que podem ser visitadas online, em seu website. São experiências virtuais. Ela coloca nestas instalações questões como feminismo, meio-ambiente, desigualdade social, etc. Também pensa nos efeitos que as novas tecnologias têm e terão no ambiente. Ela mostrou algumas instalações que estão funcionando em seu país neste momento.

Uma das preocupações de Linda é a ausência de mulheres no âmbito da educação acadêmica, especialmente no que se refere ao uso de tecnologias.  Ela fala também da dificuldade de conseguir financiamento para os eventos que organiza.

Isabel contou sobre o trabalho que vem desenvolvendo na universidade em que leciona, em Porto Alegre (UFRGS), junto a grupos, estudantes e profissionais, sobre corpo e música relacionados a gênero. Ela está trabalhando com o grupo coordenado, entre outros (as), por Marilia Velardi. Coordena o Simpósio Temático relacionado a pesquisas de gênero no Congresso da ANPPOM em 2018, entre muitas outras atividades.

Isabel convidou Linda para trabalhar consigo alguns anos atrás. Atualmente elas têm um projeto para construir instrumentos e ensinar tecnologia para mulheres. Elas trabalham bastante com soundwalkings. A ideia é mostrar às mulheres que elas podem lidar com tecnologias diversas na música e na arte.

Soundwalkings

Linda diz que a escuta difere de acordo com o gênero. Mulheres são silenciosas, tímidas, não aprendem a ser barulhentas. Elas percebem o mundo como ruidoso demais às vezes, acham que homens são barulhentos, perturbadores. Nas caminhadas sonoras, mulheres são convidadas a usar a escuta como primeira fonte sensorial, captando sons e pensando sobre eles e o que representam no espaço.

Existem métodos para realizar um soundwalking. Podem envolver gravações de histórias sobre os lugares em que passam, etc.

“Decisões sobre o lugar, estilo, conteúdo e montagem do som numa caminhada sonora tem consequências políticas, sociais e ecológicas. Estas caminhadas acontecem em espaços urbanos, rurais, selvagens ou mistos”(slide de Linda O’Keeffe).

A metodologia envolve a percepção sobre a escuta involuntária e a voluntária, seletiva, inclusiva ou excludente que ocorre o tempo todo.

Métodos

Trabalhando com artistas: esta prática possibilita o compartilhamento de habilidades, colaboração entre membros do grupo e a criação de espaços seguros.

Trabalhando em escolas: envolve a criação de modelos em som, tecnologia e música. Desenvolve habilidades em tecnologia e produção sonora, além da interação entre professores (as) e estudantes.

Uma das ferramentas usadas é a caixa com aparelhos e objetos sonoros que Linda e sua equipe enviam às escolas para que façam atividades similares. Chama-se research in a box.

Em relação à montagem da caixa, Linda pergunta às professoras e professores o que querem usar e para que. Pergunta e discute também com alunas e alunos para ver o que funciona e o que não.

Mulheres e tecnologia

Isabel e Linda estão trabalhando juntas, dividindo suas percepções acerca dos avanços, dos medos, da insegurança em relação à tecnologias. Mulheres geralmente têm a sensação de que lhes falta conhecimento neste campo, de que não aprenderam da maneira apropriada, até porque não frequentaram, ou pelo menos não de igual maneira, os mesmos lugares frequentados pelos homens.

Dificuldades em relação à divulgação e adesão ao projeto

Linda disse que uma das dificuldades enfrentadas por ela é envolver professores homens no projeto. Eles agem como se não tivessem que lidar com este tipo de problema, da desigualdade de gênero (além da racial e social).

Linda reforça que meninos precisam saber dividir o espaço com meninas, precisam saber das dificuldades que elas enfrentam, para ter um ambiente mais diverso – incluindo pessoas de cores e níveis econômicos diferentes. Mas ela diz que em UK este diálogo é bem difícil ainda.

Esta é uma das razões porque ela escolheu pesquisar este assunto, para promover mudanças neste espectro.

O evento completo pode ser conferido no link

http://youtu.be/QOhqz3bztZk

 

 

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Conversa com Linda O’Keeffe e Isabel Nogueira

Linda O Keeffe (IRE / UK) e Isabel Nogueira (BRA) apresentarão uma discussão sobre seu projeto colaborativo, Soando o Corpo Feminista. Este projeto é financiado pelo British Arts Council e pelo CNPQ. O trabalho é dividido em duas partes, em primeiro lugar, o desenvolvimento de uma nova prática artística baseada em processos feministas e, em segundo lugar, o desenvolvimento de uma metodologia inovadora para o envolvimento da comunidade com mulheres e meninas, Ressonando o Corpo Feminino no Espaço. O Keeffe e Isabel apresentarão as atividades atuais que aconteceram em Porto Alegre e exemplos de trabalho que estão criando juntos.

Linda O Keeffe é fundadora da organização Women on Sound Women in Sound, uma rede que une indivíduos, grupos e organizações, promovendo a troca de conhecimento que molda nossa atual compreensão de som e tecnologia (www.wiswos.com). Ela também é editora do Interference Journal, uma revista acadêmica sobre cultura do áudio (www.interferencejournal.org). Ela é mais conhecida por seu trabalho analisando as condições sociais do espaço em relação à percepção e ao som, mas o impacto do gênero, de ser uma mulher no espaço, levou a uma reconfiguração de sua prática. Trabalhos recentes em grande escala incluíram uma comissão de 2016 para a Bienal irlandesa ‘My Voice is Still Lost’, que explorou o papel da igreja católica nos papéis das mulheres e na sexualidade na vida cotidiana na Irlanda e ‘Score For Her’ no Cibelo Cibelo Palace Concert salão em Madrid em 2017. www.lindaokeeffe.com

Isabel Nogueira é compositora-performer e musicóloga, doutora em musicologia (UAM/ Espanha) e graduada em piano (UFPel). Pesquisadora do CNPQ e professora Titular do Departamento de Música (IA/UFRGS), atuando na graduação e pós-graduação. Coordena o Grupo de Pesquisa em Estudos de Gênero, Corpo e Música (UFRGS), tem pesquisas sobre música e gênero, performance e criação sonora. Lançou os discos Impermanente movimento, Voicing e LusqueFusque (2016), Mar de tralhas, Betamaxers, Légua, Meteoro-phoenix, Unlikely Objects e Hybrid (2017), Zah e Isama Noko (2018). Participa dos trabalhos colaborativos Medula Experimentos Sonoros (RS), Elatrônicas (RS), Strana Lektiri (com Leandra Lambert), Mulheres na Lua: som e movimento (com Ana Fridman) e If I Were Me (com Linda O’Keeffe).

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Vozes

Ata da reunião de 13/08/2018 – Vozes com Tide Borges

Esta é a 13ª edição da Série Vozes. É também a data em que a compositora brasileira Vania Dantas Leite faria 73 anos. Vania faleceu dia 11/8/2018 e em sua homenagem a Sonora fez uma curta apresentação de sua biografia, seguida da audição de sua peça Di-Stances, composta em 1982.

Conversando com Tide Borges

Tide graduou-se em Comunicação Social, com Habilitação em Cinema, na ECA-USP, em 1984. Foi uma das pioneiras a trabalhar com som direto no Brasil. Desde 82 trabalha com cinema. É Diretora de Som, entre outros, do som do filme “A hora da Estrela”, de Suzana Amaral, e “Mulheres Olímpicas”, de Laís Bodanski.

Tide conta que os primeiros professores que ensinavam a trabalhar com eletrônica na ECA abordavam, principalmente, a física dos sons, suas propriedades. A investigação artística nesta área se deu, para ela, um pouco empiricamente.

Ela conta que no curso de cinema, a parte do “som” era a que menos atraía alunos e alunas. Ela acabava fazendo as trilhas e a produção sonora de todos os filmes da escola.

Usava um gravador portátil, o Naga 3, que havia pertencido à equipe de Thomas Farka, fotógrafo e cineasta conhecido por seus documentários.

Tide voltou à USP para fazer o Mestrado em Ciência da Comunicação. Sua pesquisa, intitulada “A introdução do som direto no cinema documentário brasileiro na década de 1960”, enfocou a ligação do gravador com a possibilidade de se colocar a voz das pessoas nos documentários. Um dos filmes que ela analisou foi “Opinião Pública”, de Arnaldo Jabor, que dava voz às mulheres para saber o que estas achavam da função da mulher na sociedade. Este filme chamou sua atenção porque era raro este interesse pela opinião das mulheres acerca da vida que levavam.

Técnica e criatividade

Tide se especializou mais na captação de sons durante a filmagem e, atualmente, discute o fazer criativo nesta profissão. Critica a visão de que este é um trabalho puramente técnico. Tem que haver uma escuta sensível e criativa na hora de fazer as escolhas do que e como gravar.

Os custos dos equipamentos são outra dificuldade, muitos são importados, tudo é caro. Tide conta que iniciou a parceria com Lia Camargo também para que juntas pudessem comprar equipamentos melhores.

Sua parceria com Lia Camargo vem de décadas. Não há hierarquia nesta relação, o que difere das relações habituais do mundo do cinema. Elas dividem os microfones, até porque dividir a monitoração auxilia a vencer a rapidez das tomadas nas filmagens. Tudo ocorre muito depressa, o ensaio é gravado e pode servir para material definitivo.

Como professora, conta da dificuldade de sistematizar um conhecimento adquirido através da experiência para colocar em suas aulas. O livro “Como fazer um filme”, de Carlos Abbate, foi uma publicação muito útil e cuja tradução foi uma conquista de Tide, entre outros (as). Desde 2010 leciona Direção de Som no curso de cinema da FAAP.

A escolha de microfones, do material ou da forma de trabalhar nem sempre é o principal num filme: o relacionamento entre as pessoas envolvidas numa filmagem é muito importante para a boa realização. Pode haver muita disputa de egos, pois o que cada profissional espera da obra é único e individual. Nem todos (as) entendem como funciona a escuta através do microfone, para o que Tide convida diretores (as) e atores (as) para ouvir com um fone sensível. Com isto eles (as) percebem como é difícil conseguir filtrar falas e sons específicos em meio à poluição sonora comum das cidades.

Tide conta que não costuma ouvir música em seus trajetos, prefere prestar atenção nos sons que a rodeiam. Está fazendo, com alunos e alunas da FAAP, um mapa sonoro da faculdade. Este trabalho de gravação da paisagem sonora do local convida os (as) jovens a conhecer e sentir o espaço que frequentam a partir dos sons.

Sobre a atuação de mulheres na área de sons diretos

Tide conta que já foi mais difícil atuar na direção de som por ser mulher. Entre outras questões, os gravadores eram mais pesados e alguns diretores achavam que mulheres não dariam conta de carregá-los.

A questão familiar é difícil também, pela necessidade de viajar, estar em campo. Tide conta que trabalhou até os 9 meses de sua gravidez, mas depois se dedicou à propaganda por um tempo, para estar mais em casa.

Na docência ela conta que foi privilegiada em certo aspecto pela carência de profissionais da área que tivessem formação acadêmica. O fato de estar na ativa, fazendo filmes, também é valorizado pela faculdade.

Em relação aos salários também, ela não tem reclamações. Mas o assédio existe, apesar de estar diminuindo.

Música x som direto

Tide conta que a relação entre trilha sonora e som direto tem se tornado mais frequente. Eram universos muito distantes, já que a trilha quase sempre chega no final das filmagens. Ela tem trabalhado mais na finalização dos filmes, o que possibilita que faça a interação das composições com o som direto. Sente que quanto mais houver esta interação, melhor será o resultado final.

 

 

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Vozes – Tide Borges (Divulgação)

Tide Borges é graduada (1984) e mestra (2008) em cinema pela Escola de Comunicações de Artes da USP. Desde 1982 trabalha com som. Fez vários curtas, documentários, filmes para a TV, longas-metragens. Além disso, desde 2002, organiza mesas de debate sobre som no cinema durante a Semana ABC. Em 2010 começou a dar aulas para a disciplina Direção de Som no Curso de Cinema da Faculdade de Comunicações da FAAP-SP.

Seus principais trabalhos:

Longa-metragens: A Hora da Estrela e Hotel Atlântico (dir. Suzana Amaral), Dois Coelhos e Mais Forte que o Mundo (dir. Afonso Poyart), Os Amigos (dir. Lina Chamie), Ausência (dir. Chico Teixeira).

Telefilmes: Kurt Masur: adventures in listening (dir. Amit Breuer), Mulheres Olímpicas (dir. Laís Bodanski).

Série Para TV: Os Experientes-Episódio “O primeiro Dia” (dir. geral Fernando Meirelles), Carcereiros II.

Documentários: São Silvestre e Dorina (dir. Lina Chamie), Do pó da terra (dir. Maurício Nahas), Futuro do Pretérito: tropicalismo now (dir. Fracisco César Filho e Ninho Moraes), Variações sobre um quarteto de cordas (dir. Ugo Georgetti), Rogério Duprat: vida de músico (dir. Pedro Vieira), Hip Hop SP (dir. Francisco Cesar Filho).

Lista completa dos trabalhos:

Imdb: https://www.imdb.com/name/nm0096601/?ref_=nv_sr_1

Vídeos no Youtube:

CINEMA POR QUEM O FAZ: Tide Borges

– https://www.youtube.com/watch?v=zWxOl_7r6Kg

Semana ABC 2016 – Entrevista com Tide Borges

– https://www.youtube.com/watch?v=KSrBwcApyR4

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