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GE – Grupo de Estudos (30/05/2016)

“As Cidadanias Mutiladas”, de Milton Santos, e “Mídia, Racismos e Representações do Outro: ligeiras reflexões em torno da imagem da mulher negra”, de Rosane Borges

 

Em “As Cidadanias Mutiladas”, Milton Santos inicia definindo o termo cidadão como “indivíduo dotado de direitos que lhe permitem não só se defrontar com o estado, mas afrontar o estado”. Um indivíduo completo, que sabe quais poderiam ser os seus direitos, que compreende o mundo em que transita.

Segundo Santos, a classe média no Brasil não é formada por cidadãos, já que não se preocupa em saber quais são seus direitos, e sim quais são os privilégios de que pode usufruir. É porque esta classe goza de privilégios que os demais não podem ter direitos. Porque uma classe não quer ser cidadã, as demais não podem sê-lo.

As mutilações da cidadania são várias, tais como:

  • Negação a oportunidades de trabalho
  • Desigualdade na remuneração
  • Demarcação da localização das moradias
  • Acesso restrito à circulação
  • Acesso restrito à educação
  • Acesso restrito à saúde, pela falta de “pistolões” que proporcionem o atendimento de qualidade em sistemas públicos de saúde
  • Ausência de direito ao uso irrestrito das novas tecnologias
  • Desigualdade de tratamento por parte da polícia e da justiça

Santos elenca também 3 dados centrais para entender o racismo:

  1. Corporalidade: dados objetivos

Este dado inclui a mobilidade e a capacidade de realizar coisas. Pensa o uso racional do território e dos recursos públicos. No Brasil, algumas empresas e algumas pessoas organizam as cidades para proveito próprio. Há um corporativismo que utiliza os recursos públicos e relega ao restante da população o resíduo do orçamento.

  1. Individualidade: dados subjetivos

A questão dos negros é mais grave porque é cumulativa, vem de um sistema de escravidão baseado no darwinismo social. Algumas pessoas ou raças são consideradas inferiores na escala da sociedade mundial. Este dado afasta a população negra das demais minorias, como as mulheres (que lutam de dentro da sociedade e, portanto, conseguem alguns avanços) e os índios (considerados parte da natureza que deve ser preservada). Os negros são considerados parte da produção. Por isso considera-se normal os milhões de pobres e desempregados no país, porque são considerados seres inferiores.

  1. Cidadania: dados políticos

Após 3 séculos de Iluminismo, o centro do universo deixa de ser o homem para ser o dinheiro. A democracia de mercado impõe competitividade, elogio à técnica. O homem é residual. Neste contexto “os mais fracos não hão de esperar nada e os negros muito menos”. São todos vítimas da violência do dinheiro e da informação. Há um assassinato cotidiano da ideia de nação.

Santos, porém, crê que a esperança possa vir desta globalização, que atua também de maneira cruel em relação aos considerados mais fracos. A migração constante poderia enriquecer o discurso, pensando novas formas de ver o mundo a partir das diferentes experiências. Segundo Santos, “os americanos propuseram ao mundo cheirar igual, com os famosos desodorantes. Não conseguiram”.

O autor aponta o difícil acesso às modernidades pelos mais pobres como um fator positivo, no sentido de que estes têm a real noção do “seu ser no mundo”, do seu “existir na formação social nacional”. [Neste sentido, Nicolau Sevcenko dizia que a América Latina tinha uma posição privilegiada de ver o mundo por um olhar periférico, não de dentro do olho do furacão, mas de fora da neurose coletiva. Ele dizia que o mundo estava no looping da montanha russa, de cabeça para baixo e em condições de repensar a história replanejando o futuro].

O texto de Santos propõe aos negros conhecer não só o seu campo, mas também o do outro. Conhecer, sobretudo, o “campo comum em que vivem todos os brasileiros”, para buscar lugares mais importantes dentro da sociedade. Para além dos guetos. Termina dizendo que “pedir aos negros que aceitem o discurso oficial e esperem tranquilos a evolução normal da sociedade é condená-los a esperar outro século”. Impossível.

 

Por sua vez, no texto Mídia, Racismos e Representações do Outro: ligeiras reflexões em torno da imagem da mulher negra”, Rosane Borges aborda a maneira como a mídia interfere na maneira dos indivíduos enxergarem-se uns aos outros, contribuindo na formação do imaginário coletivo. Ela aponta a importância desta influência, uma vez que a sociedade tende, por si só, a estabelecer juízos de valor a partir de determinados critérios como melhor/pior, belo/feio, normal/desviante, e assim por diante.

Em relação aos negros, a autora observa que já existe uma crítica ao modo de representa-los de maneira uniformizada e preconceituosa. Pesquisadores já reclamam uma postura pluralista e voltada à diversidade, capaz de derrubar os habituais estigmas de racismo. É preciso apenas ouví-los.

Rosane cita uma amostragem do modus operandi da sociedade julgar seus pares a partir de determinados símbolos:

  • Limusines negras são relacionadas a seres poderosos, geralmente ligados à política ou à economia.
  • Livros atrás de entrevistados significa que os mesos são intelectuais.
  • Mulheres chorando remetem-se a mães lamentando por algo com os filhos.
  • Nomes omitidos e identidades ocultas falam de pessoas exiladas, desterritorializadas.
  • Imagens e vozes distorcidas tem a ver com o terceiro mundo, os estranhos, os “outros”.

Seguindo estes modelos, espera-se que o mundo continue igual, conhecido, sem grandes surpresas que possam abalar as estruturas de poder. A autora cita a prática do “controle de rostos”, que facilita a escolha de quem pode entrar nos estabelecimentos privados, adquirir bens, habitar e trabalhar, sem causar danos aos proprietários. A mídia serve a estes propósitos, repetindo à exaustão as regras do aceitável, do considerado normal. Neste contexto o homem e a mulher negra são categorizados segundo critérios desumanizantes.

A postura da mídia é, majoritariamente, conservadora dos valores coloniais e eurocêntricos. As imagens do passado revestem-se de novas roupagens para assegurar a perpetuação dos privilégios de classe e raça. Em relação às mulheres negras, o modelo ainda lembra a Vênus de Hotentote, com formas protuberantes que aludem a uma hipersexualidade. De um lado a beleza sensual e de outro a suposta falta de controle sobre os instintos, a mulher negra serve de ícone para propagandas como a da cerveja Devassa, cujo slogam declara: “é pelo corpo que se conhece a negra”.

Autoras como Rosane Borges e Bel Hooks concordam em que o sistema patriarcal e machista dos tempos coloniais subjugava as mulheres negras considerando-as objetos de seus senhores brancos. Este infeliz julgamento permanece como pano de fundo para que se mantenha um julgamento estereotipado acerca das mesmas, ainda que há muito elas tenham ingressado no mundo intelectual, artístico e profissional de todas as áreas.

Como então quebrar este círculo vicioso e libertar a mulher negra da imagem da Vênus de 1789, exibida como objeto de atração e assustamento? Rosane crê que a saída esteja na comunicação contraintuitiva, na qual teorias são fundamentadas em estudos das diferenças, da diversidade, da pluralidade, rejeitando modelos cristalizados. Só assim a verdadeira imagem da mulher negra pode ser resgatada, devolvendo-a ao lugar digno que todo cidadão merece.

Sobre os autores

Milton Santos nasceu na região da Chapada Diamantina, filho de pais professores primários. Aos dez anos ingressou no Instituto Baiano de Ensino de Salvador, passando em primeiro lugar. Em 1948, formou-se em Direito pela Universidade Federal da Bahia. Desde a juventude atuou na política estudantil, criando jornais e participando da União Nacional dos Estudantes, da qual chegou a ser vice-presidente. Em 1956, foi convidado a realizar seu doutorado em Estrasburgo. Em 1960, já de volta, publicou o estudo “Mariana em Preto e Branco”. Com o golpe militar de 1964, foi preso e exilado. Neste período atuou como professor na Universidade de Toulouse, na França. Retornou ao Brasil em 1977, ingressando na USP como docente em 1984. Faleceu aos 75 anos, em 2001.

Rosane Borges é jornalista, pós-doutoranda em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, integrante do grupo de pesquisa Midiato (ECA-USP) e professora do Curso de Especialização do Celacc (Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação da USP). Foi coordenadora nacional do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC) da Fundação Palmares, órgão do Ministério da Cultura, e professora do Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde integrou o corpo docente do mestrado em Comunicação Visual. Coordenou a Revista Nguzu (NEAA-UEL) e escreve regularmente nos portais de notícias “Obsevatório da Imprensa”, “Geledés” e “Áfricas”. Integra a Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra (OAB-SP), a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-SP) e o Conselho Nacional de Promoção de Políticas da Igualdade Racial (CNPIR) da Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial). Possui diversos livros publicados, entre eles: Jornal: da forma ao discurso (2002), Rádio: a arte de falar e ouvir (2003) e Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro (2004).

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Ata da 12ª Reunião – GE – 30/05/2016

Pauta

  • Este encontro dedicou-se à preparação da entrevista com a Prof.ª Dra. Rosane Borges, marcada para o dia 06/06/2016. Foram escolhidos 2 textos para discussão: “As Cidadanias Mutiladas”, de Milton Santos, e “Mídia, Racismos e Representação do Outro: ligeiras reflexões em torno da imagem da mulher negra”, da própria Rosane Borges. O primeiro foi citado por ela no seminário O Negro no Brasil, ocorrido dia 12/05/2016. Sua escolha se deve, além disso, ao fato de que Milton Santos introduz a questão do racismo num plano mais abrangente, possibilitando um melhor entendimento da situação e representação da mulher negra, abordadas por Rosane Borges em seu artigo.
  • A discussão dos 2 textos abriu espaço para falarmos sobre um acontecimento trágico que marcou a semana anterior ao encontro, que foi o estupro coletivo de uma garota de 16 anos no Rio de Janeiro. Foi observado que este tipo de violência contra a mulher decorre de um comportamento prepotente, autoritário e darwinista como os apontados nos textos lidos, que supõe que alguns seres humanos são superiores a outros e, portanto, tem mais direitos. Estes direitos compreenderiam o uso de uns pelos outros, sem qualquer tipo de culpa ou consequência.

 

GE – Texto de Milton Santos “As Cidadanias Mutiladas”

  • Eliana Monteiro da Silva apresentou este texto a partir de 3 pontos considerados importantes para o autor: corporalidade, individualidade e cidadania. A corporalidade teria dados objetivos quanto à mobilidade dos cidadãos e sua capacidade (ou restrição da mesma) de realizar coisas. A individualidade teria dados subjetivos e caracterizaria a comunidade negra de modo particular e diferente das outras minorias, pelo fato de que as outras reclamam direitos de um lugar que está inserido na sociedade, enquanto os negros estão excluídos da mesma. Já a cidadania se basearia em dados políticos, que dependem de uma democracia voltada para os homens e não para o mercado.
  • Segundo Milton Santos, um cidadão é um indivíduo completo que, se não consegue exercer seus direitos, sabe quais são eles e tem condições de reivindica-los. No Brasil, o autor constata que estas cidadanias são mutiladas porque há uma situação de colonialismo que busca manter os privilégios da classe média soterrando os direitos dos demais. O próprio território e seus recursos naturais são manipulados, quase totalmente, por poucas pessoas e/ou empresas. Ao restante da população disponibiliza-se o resíduo do orçamento da nação.

 

Texto de Rosane Borges “Mídia, Racismos e Representação do Outro: ligeiras reflexões em torno da imagem da mulher negra”

  • O segundo texto a ser discutido versou sobre a imagem da mulher negra e sua associação a estereótipos de hipersexualidade. Segundo a autora, a mídia reproduz um discurso preconceituoso e racista sobre a mulher negra, tornando-se formadora e mantenedora desta opinião. Tal imagem teria origem na constituição corporal de Sarah Baartman, uma mulher negra nascida em 1789, cujas nádegas eram proeminentes a ponto de chamar atenção. Esta “desproporção” seria exibida como algo monstruoso e exótico, confirmando a “normalidade” e perfeição do homem e mulher europeus.
  • As medidas ampliadas de Sarah foram associadas a um suposto apetite sexual exagerado, de onde vem o estereótipo da mulher negra devassa. Propagandas de cerveja, entre outras, usam estes signos do imaginário construído ao longo dos séculos para criar um lugar para as mulheres negras, qual seja nos desfiles de carnaval, nas rodas de samba, etc.
  • Rosane termina apostando na comunicação contraintuitiva pode quebrar padrões e desconstruir estigmas pré-estabelecidos. Aponta também a importância de estudos atentos à diversidade, ao racismo e à alteridade, para transformar nossos horizontes de representação.

 

Planejamento da próxima reunião – série Visões – dia 06/06/2016

  • Entrevista/conversa com Rosane Borges.

 

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Operacional

Ata da 11ª Reunião – interna – 23/05/2016

Pauta

  • Atualização do calendário Google
  • Atualização do calendário do site
  • Padronização dos títulos das transmissões no youtube
  • Revisão de posts

 

Tópicos abordados

  • Convite dirigido à Professora Rosane Borges para a série Visões, dia 06/06/2016. Eliana ficou de confirmar e pedir dados da convidada para divulgação.
  • Texto a ser lido no encontro do dia 30/05. Foi sugerido um capítulo do livro “Mídia e Racismo”, organizado por Rosane Borges e Roberto Carlos da Silva Borges, para preparar a entrevista da autora.

 

Planejamento das próximas reuniões:

  • 30/05 – GE – Texto de Rosane Borges (a confirmar)
  • 06/06 – Série Visões com Rosane Borges (a confirmar)

 

 

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Operacional

Ata da 10ª Reunião (16/05/2016)

Evento “Mulheres Negras nos movimentos sociais – liderança e feminismo negro”

  • No dia 16/5 o tradicional encontro da Sonora foi substituído pela ida ao evento de abertura da USPRETA. Em mesa composta por Maria José Menezes, do Núcleo de Consciência Negra, e Maurinete Lima, da Frente 3 de Fevereiro, a USPRETA promoveu o debate sobre o tema “Mulheres Negras nos movimentos sociais – liderança e feminismo negro”.

Local: CCA (prédio central da ECA) – Lupe Cotrin. Horário: 18 hs.

 

Planejamento das próximas reuniões:

  • 23/05 – Interna
  • 30/05 – GE – Texto de Rosane Borges (a confirmar)
  • 06/06 – Série Visões com Rosane Borges (a confirmar)

 

 

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Visões

Ata da 9ª Reunião (09/05/2016) Série Visões com Lilian Campesato

Relatos de Lilian Campesato em Lancaster durante o “Women in Sound, Women on Sound Forum: educating girls on sound

  • Lilian contou que foi a única participante do Hemisfério Sul.
  • O Fórum durou um dia na Universidade de Lancaster. É o segundo ano do evento.
  • O evento foi criado porque xs organizadorxs perceberam que havia um desequilíbrio entre a quantidade de meninos e meninas nas universidades de música.
  • Foram realizados workshops, fóruns de discussões, palestras e concertos.
  • Participaram também adolescentes da comunidade, alunxs de conservatórios, escolas de música em geral.
  • Foram apresentadas keynotes sections com Anna Xambó e Liz Dobson. Estas palestras abordavam o acesso das meninas ao universo da experimentação sonora, a visibilidade das mulheres neste âmbito, etc. Não foi observada a preocupação em relação a outros campos em que as mulheres se sentem excluídas.
  • Xs participantes foram divididxs em grupos para discussão de perguntas pré-estabelecidas. Entre os questionamentos estava a trajetória musical de cada um(a). A composição destas mesas variava a cada pergunta. Tinha uma adolescente da rede pública em cada mesa.
  • Houve um momento para que representantes das mesas apresentassem as conclusões a que cada grupo chegou.
  • Havia uma única pessoa negra no evento, uma mulher, que foi representante de uma das mesas.
  • Problemas e possíveis soluções foram elencados e discutidos.

Tópicos discutidos depois da apresentação de Lilian sobre o evento:

  • Questão de privilégios.
  • Questão da falta de modelos de outras mulheres na música.
  • O impacto que o sistema educacional vigente exerce na exclusão de meninas de certas atividades.
  • A inclusão de mães nas atividades musicais.
  • A sensibilização dx outrx para questões que teoricamente não lhe pertencem.
  • A importância de espaços exclusivos para meninas, para mulheres negras, para minorias se colocarem e se fortalecerem.

Planejamento das próximas reuniões:

  • 16/05 – Reunião interna
  • 23/05 – GE com texto de Rosane Borges
  • 30/05 – Interna
  • 06/06 – Série Visões com Rosane Borges?

Link da transmissão:

 

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Ata da 7ª Reunião – GE – 25/04/2016

Pauta

  • Sobre visita ao Núcleo Consciência Negra, que foi assunto do último encontro: Mariana ficou responsável por entrar em contato com membros do núcleo para programar uma visita da Sonora. Entrou em contato com o coletivo Opá Negra, voltado a questões sobre racismo na ECA USP. O coletivo não é feminista mas tem pouquíssimos homens, o que acaba sendo um precedente para o surgimento de discussões de gênero. Ana Paula Marcelino, membro do Opá Negra, convidou xs membrxs da Sonora para participar da 3ª edição da USPRETA, em maio, que tem como tema a produção da mulher negra no espaço da arte.
  • Sara trouxe informações sobre o grupo de mulheres de que participa no Vocacional, que tem vários eventos focados no gênero.

GE – Texto de Bel Hooks “De mãos dadas com minha irmã”, do livro Ensinando a Transgredir

  • Davi Donato expos o texto a partir de 3 momentos: escravidão, emancipação e feminismo. Ele observa que o texto não tem formato muito acadêmico, tem poucas citações e fontes, principalmente em relação a contextos históricos.
  • Em relação a esta questão, Antonilde Rosa, que havia sugerido a leitura deste texto, apontou que a escrita coloquial é uma estratégia de transgressão. Hooks usa uma linguagem acessível, sem se preocupar em se adequar a qualquer formato.
  • Hooks entende que a separação entre mulheres brancas e negras não diminuiu com o fim da escravidão, só ficou menos evidente. Ela inclusive aponta um maior distanciamento da “patroa” em relação à família da empregada doméstica, já que esta última trabalha longe da própria casa.
  • Enfocando as relações na academia, Hooks vê uma certa dificuldade de pesquisadoras brancas em ouvir pesquisadoras negras. A escrita geralmente não é pautada em depoimentos reais.
  • Em relação ao empoderamento feminino, o texto critica situações onde mulheres brancas que tem acesso a cargos de poder assumem posturas idênticas às machistas. Reproduzem relação serva-senhora na academia, querendo falar mais da negritude que as próprias negras. Atitudes como estas reforçam paradigmas de dominação.
  • Um ponto levantado foi que mulheres brancas de nível econômico menos elevado se colocam mais ao lado das negras, pela empatia na discriminação.
  • Ao final da discussão ficou claro que xs membrxs da Sonora não tinham ideia do que pensavam as mulheres negras a respeito de sua relação com as brancas. Todxs concordaram que há um longo caminho a percorrer para entender melhor o feminismo negro e, até, a própria branquitude, como apontou Bel Hooks. Antonilde Rosa sugere a leitura da tese da Juliana Werneck sobre a dificuldade das mulheres brancas de circular em ambientes públicos, prática a que às negras era permitido. Juliana é do Rio de Janeiro, da ONG Crioula. Ela é médica, engenheira e fez Mestrado e Doutorado em Comunicação.

Planejamento da próxima reunião – interna – dia 02/05/2016

  • Divulgação de eventos no calendário
  • Oficina sobre equipamentos de transmissão
  • Notícias do evento de Lilian Campesato em Londres

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Ata da 6ª Reunião – interna – 11/04/2016

Pauta

  1. Contribuições da Sonora para o WISWOS 2016 – reflexões sobre as perguntas endereçadas a Lilian Campesato:

1.1. De que maneira os sistemas educacionais influenciam jovens garotas impedindo-as de se dirigir aos campos da ciência, tecnologia, artes e engenharias com som e composição? Como isso pode ser modificado / melhorado?

S: Entre vários aspectos citamos, por exemplo, o fato de que até meados de 1970 no Brasil o ensino fundamental não era misto em todas as escolas e as matérias ligadas à ciência e tecnologia eram mais incentivadas aos meninos. A escassez de modelos femininos em posições de mais destaque e poder e posturas misóginas de alguns professores, desqualificando os trabalhos das alunas ou mesmo negligenciando sua presença na classe, é outro fator. Nota-se também a existência de um direcionamento, ainda que velado, para que a mulher aceite sem questionamentos sua posição de mãe e responsável pela boa organização doméstica.

1.2. O que acontece nas salas de aula de música (composição) / engenharia de áudio, música e tecnologia, etc?

S: Como foi dito no item anterior, alguns professores assumem posturas que inibem a participação de alunas numa classe mista. Ainda assim houve um aumento no número de mulheres que frequentam estes tipos de curso nos últimos anos, motivado pelo aumento de professoras mulheres e de modelos femininos.

1.3. Em que ponto (quando) observamos uma mudança do mesmo nível de interesse (em relação aos meninos) para pouco interesse (nessas áreas e aulas)?

S: Alguns músicos têm demonstrado interesse por discussões e posicionamentos voltados a questões de gênero, mas que o foco destas discussões não coincide com o pretendido pelas mulheres.

1.4. Que iniciativas já existem para encorajar as garotas a participar / se envolver?

S: Atualmente existem oficinas e cursos para mulheres em áreas que envolvem o uso de tecnologia, às vezes com oferecimento de bolsas de estudos por instituições. Mas ainda é preciso dar mais visibilidade às mulheres na música, em todas as suas vertentes. É preciso educar para a diversidade.

1.5. O que podemos e o que não devemos fazer a esse respeito?

S: Salientamos a importância de as mulheres retornarem aos espaços em que se sentiram isoladas em suas trajetórias, oferecendo modelos femininos e feministas às novas gerações.

2. Carta de repúdio – foi conjecturado colocar a carta no site da Sonora e pensar em um evento/performance/artigo ou qualquer outra forma de apropriação deste material com fim de divulgar e refletir sobre ataques do tipo que a rede sofreu.

3. Carta a Anppom – foi postada na lista da ANPPOM por Tania Neiva.

4. Atualização do site – dada a grande quantidade de assuntos deste encontro não foi possível contemplar este item das pauta.

Tópicos abordados

  • Visita ao Núcleo Consciência Negra – ficou combinado que Mariana entraria em contato com membros do núcleo para programar uma visita da Sonora.
  • Organização de possível entrevista com Djamila Ribeiro na serie Visões (dia 2/5?), fazendo um contraponto com Antonilde Rosa.

Planejamento da próxima reunião – dia 25/04/2016 (GE)

  • Decidiu-se que dia 18/04 não haverá encontro. Eliana ficou de avisar ao grupo por email.
  • Para o encontro do dia 24/04 foi selecionado o texto “Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade” de Bell Hooks. Davi ficou responsável por apresentar o texto e fazer o post.
  • Eliana se prontificou a fazer a chamada da reunião do dia 25/04 no grupo do gmail.
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Ata da 5ª Reunião – GE – 04/04/2016

Tópicos abordados

  • A presença de Vanessa de Michelis, membro integrante da Sonora desde o 1º encontro, e que esteve fora de SP por alguns meses, trouxe um retorno sobre as atividades da rede a partir de um lugar que permite o distanciamento crítico. Vanessa contou que tem acompanhado as atividades da rede pela internet e que, ultimamente, entrou com maior frequência no site para ler as postagens. Ela disse ter ficado feliz com o desenvolvimento do processo e anotou alguns pontos para nos contar. Um deles foi pensar sobre as três ondas do movimento feminista, sobre as quais ela havia falado na primeira reunião da rede, e que ela reconhece no caminho trilhado por Sonora neste um ano de existência.
  • Novxs integrantes (ou, chegados em 2016) da rede se apresentaram:
  1. Antonilde Rosa é graduanda de Bacharelado em Canto na Universidade Federal de Goiás. Disse participar de coletivo feminista de mulheres negras na UFG.
  2. Sarah Alencar é ex-aluna da ECA USP, natural de Goiânia, e está pensando em fazer Mestrado na área de gênero.
  3. Miguel, também integrante desde 2016, contou sobre sua pesquisa acerca do papel do clown nas atividades de criação artística.
  • Flora Holderbaum apresentou o texto Borderlands/La Frontera escrito por Gloria Anzaldúa. Discutiu-se as ideias da autora também a partir de outro texto, Consciência Mestiça e Feminismo da Diferença, de Claudia de Lima Costa e Eliana Ávila. Isabel Nogueira comentou e deu contribuições sobre o tema via hangout.
  • Para os próximos encontros foi sugerida a leitura de textos de autoras afrodescendentes, como Bel Hooks e Audrey Lorde.
  • Foi levantado, para reflexão, o tema corporativismo.
  • Discutiu-se a resposta à carta da Diretoria da ANPPOM, concluindo que seriam adicionados os nomes dos integrantes da lista de e-mails até o envio da mesma.

 

GE – Leitura e discussão dos textos

  • Gloria Anzaldúa – Borderlands / La Frontera
  • Claudia de Lima Costa e Eliana Ávila – Consciência mestiça e feminismo da diferença

Em linhas gerais, os dois textos versavam sobre o estado de transição da mulher mestiça, posicionada entre as culturas europeia e indígena e recebendo mensagens muitas vezes contrárias. Em vez de se posicionar radicalmente em uma ou outra margem do rio, Gloria Anzaldua defende a ideia de articular políticas identitárias e política de alianças.

“Para Anzaldúa, formar alianças é um processo que requer estratégias flexíveis e transitórias, históricas, contingentes a cada circunstância específica” (Costa e Ávila, 2005, p. 4).

 

Planejamento da próxima reunião

  • Foi sugerido para a próxima reunião, interna, a escolha da próxima entrevista e dos próximos textos. O nome da pesquisadora Laila foi levantado.
  • Como o terceiro texto planejado para este GE (de Marilena Chauí) não foi lido por falta de tempo, ficou para ler em casa, como complementar aos dois trabalhados.

 

 

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GE – Leitura e discussão sobre o texto “A Tirania das Organizações sem Estruturas”, de Jo Freeman

O termo ‘Organizações sem Estruturas’ foi utilizado por Jo Freeman para referir-se ao formato dos primeiros grupos feministas que recusavam as superestruturas de poder, a hierarquia e o controle externo, características associadas a grupos masculinos. A ausência de estrutura definiu o modo de agir destes grupos pioneiros, para quem a conscientização, as discussões, o agregar e recepcionar novos membros eram os objetivos principais.

Segundo Freeman, os problemas começaram a aparecer quando, passada a euforia inicial, tais grupos quiseram fazer outras atividades e tecer novos projetos. Perceberam então que a falta de estrutura limitava suas ações, e que estruturar-se não significava engessar-se.

…..

Jo Freeman passou a não acreditar na eficiência de grupos sem estrutura. A autora entendeu que as mesmas podiam ser mais ou menos flexíveis, mas que sempre existiriam. O que aconteceria num grupo sem estrutura é que alguns controlariam as regras e outros não saberiam bem qual seria seu funcionamento, mas sentiriam que algo estava acontecendo ali.

Segundo a autora, para que o grupo ofereça oportunidades de inclusão, as regras devem ser claras e todos devem conhece-las. O grupo informal favorece a criação de elites, ou, o poder de grupos menores sobre grupos  maiores.

…..

De acordo com Freeman, elites são pequenos grupos de pessoas que influenciam mais do que outras em determinados grupos. Esta autoridade é percebida pelos demais membros, que passam a se comportar de acordo com esta noção. Todos sabem a quem devem ouvir mais atentamente e de quem será a palavra decisiva para a tomada de atitudes.

Os grupos de elite dentro de determinados grupos geralmente são amigos também fora deste contexto. Estabelecem comunicação à parte do que ocorre nos encontros do grupo. Pode haver um ou mais grupos de elite num grupo  maior, e eles podem se rivalizar pelo poder. Por sua vez, se o grupo for estruturado os outros integrantes poderão escolher membros para representa-los e dar-lhe sugestões de conduta, o que é saudável.  O pré-requisito para ocupar cargos de poder deve estar baseado nas características da personalidade e disponibilidade de tempo de quem se candidata.

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Um dos perigos da falta de estrutura é dar poder a quem não o merece, apenas porque se gosta da pessoa. Isto não tem maiores consequências quando o grupo não se lança a projetos maiores, mas atrapalha num segundo estágio do grupo.

Grupos inestruturados são bons para que as pessoas se abram sem reservas e falem de suas questões, mas não para fazer coisas acontecerem. A falta de estrutura não impede o grupo de divulgar suas ideias, mas dificulta a tomada de atitude para coloca-las em prática.

…..

Alguns princípios são considerados úteis por Freeman para a estruturação democrática de um grupo:

  1. Delegação, por meios democráticos, de autoridade específica a indivíduos específicos para tarefas específicas. Se pessoas são escolhidas para uma tarefa, preferencialmente após manifestarem um interesse ou vontade de fazê-la, elas assumem um compromisso que não pode ser facilmente ignorado.
  2. Distribuição da autoridade entre tantas pessoas quanto possa ser razoavelmente possível. Isso oferece a muitas pessoas a oportunidade de ter responsabilidade por tarefas específicas e dessa forma aprender habilidades específicas.
  3. Rotação de responsabilidades e tarefas entre as pessoas, para que ninguém se aposse de tal ou qual atividade.
  4. Difusão da informação a todos e acesso aos recursos do grupo.

…..

Sobre a autora

Jo Freeman nasceu em Atlanta (Georgia), em 1945, e cresceu em L.A., Califórnia. É ativista, cientista política, advogada e escritora. Formou e uniu-se a vários grupos feministas na década de 1960 e escreveu sobre as dificuldades dos mesmos, tanto internas (rivalidades, disputas de poder) quanto externas (reconhecimento, campo de ação).

Alguns de seus livros são “Women: A Feminist Perspective” (Mayfield Publishing Co., antiga National Press Books), que rapidamente se tornou referência para estudos feministas, e sua dissertação “The Politics of Women’s Liberation: A Case Study of an Emerging Social Movement and Its Relation to the Policy Process” (Longman Inc. after purchase from David McKay Co.), que recebeu prêmio de $1,000 como o melhor livro acadêmico sobre mulher e política.

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Ata da 4ª Reunião 28/03/2016

Tópicos abordados

  • Leitura da pauta semanal
  • Discussão sobre a resposta da ANPPOM à carta enviada pela Sonora à lista. Concluiu-se que a Diretoria da ANPPOM foi receptiva e mostrou-se aberta à proposta do fornecimento de espaço e organização de atividades para crianças filhas e filhos de participantes em congressos futuros, visando incluir mais mães pesquisadoras, mas que a mesma entendeu tratar-se esta empreitada de uma atividade onerosa, que demandaria a contratação de equipes especializadas em locais propícios para este fim. Este ponto de vista divergiu um pouco do que xs membrxs da Sonora tinham em mente a priori, que seria uma atividade paralela ao evento, com a possível colaboração dos pesquisadores da área de Educação Musical, bem como voluntários de modo geral, no mesmo espaço físico do congresso, tornando o mesmo mais interativo e transformando o ambiente acadêmico de forma positiva. Deu-se início à elaboração de uma carta-resposta da Sonora à equipe diretora da ANPPOM.
  • Discussão sobre a carta de repúdio, locais para onde mandar. Foi sugerido mandar à rede Não Cala, CMU News, entre outros, além de colocar no site. Também houve acordo em relação à não divulgação da pessoa que atacou a Sonora como um todo, para não dar-lhe mais espaço.

GE – Leitura e discussão de textos

  • Foi lido o textoA Tirania Das Organizações Sem Estruturas”, de Jo Freeman. O texto data de 1970.