Uma das principais práticas da sociedade colonial que propiciou a subalternização de pessoas negras, foi o apadrinhamento dos senhores e das sinhás em relação a famílias, grupos e/ou indivíduos negras/os. Esse sistema de troca de favores, bens materiais e afetivos, ao mesmo tempo que permitiu a autonomia financeira de uma parcela dessa população, por outro lado, sustentou a exploração de mão de obra, as investidas de natureza sexual contra as mulheres, fomentou a miséria e demais mazelas da maioria da população negra brasileira.
Percebemos ao longo da história, que essa prática sempre se intensifica em contextos de crises nas quais a população negra fica ainda mais vulnerável diante da negligência e das políticas genocidas do Estado. Estamos há aproximadamente 8 anos em um contexto de crise econômica, porém, depois do Golpe de 2016 que resultou no Impeachment contra a Ex-presidente Dilma Rousseff, as áreas das Ciências Humanas e das Artes passaram a sofrer um tipo de criminalização e patrulha ideológica por mandatários que se beneficiaram com o Golpe. E nessa trincheira, as/os artistas que não estão inseridos na indústria cultural mainstream, beiram à falência financeira e à mendicância.
É de conhecimento público que as/os artistas negras/os, em sua maiorias, são aqueles que menos recebem incentivos e investimentos financeiro. Então, me pergunto: como e onde estão as/os artistas negras/os nesse mar de miséria? Destarte, é a partir dessa prática histórica: o apadrinhamento, que quero discutir sobre a situação de profissionais negras/os no campo da música clássica brasileira, neste momento de destruição das teias de produção e dos sistemas de fomento das atividades artísticas e culturais no Brasil.