Marília Velardi, professora no curso de graduação em Educação Física e Saúde, atuando na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP), iniciou este evento explicando sua linha de pesquisa: a investigação qualitativa. É uma linha de pesquisa que parte de um referencial epistemológico clássico e do conhecimento em métodos indutivos para atingir uma investigação autoral, rompendo com estruturas pré-estabelecidas para questionar as lógicas geralmente aceitas e romper com estruturas rígidas.
Marilia entende que muitas teorias têm a capacidade de ser aplicadas em contextos e tempos variados, mas, ainda assim, elas funcionarão melhor se associadas a conhecimentos específicos, principalmente em se tratando da pesquisa sobre assuntos não europeus ou do Hemisfério Norte. A bibliografia usada, por exemplo, na América Latina, é fundamentalmente europeia e, por esta razão, precisa ser associada a estudos realizados localmente para que a pesquisa seja mais legítima. Não se trata de negar a importância das pesquisas e teorias tradicionais, mas sim de amplia-las.
Como referências tradicionais ela aponta:
- Escola de Chicago
- Movimentos
- 4ª geração
Em relação à Escola de Chicago, a pesquisadora diz que é quando surgem narrativas acadêmicas que se iniciam com a biografia do investigador, desde que esta tenha relação com o objeto pesquisado. O pesquisador (a) se relaciona diretamente com aquilo que esta pessoa procurará, dando uma força e uma credibilidade maior à sua pesquisa. Este conceito dá origem, em certa medida, ao chamado “lugar de fala”. A pessoa não precisa, obrigatoriamente, ser originária do campo pesquisado, mas deve no mínimo ser capaz de fazer a ponte entre a academia e o objeto investigado.
Validação e avaliação
Foi levantada a questão da validação e avaliação da pesquisa qualitativa. Marilia disse que este tipo de investigação requer a criação de grupos que fortaleçam este tipo de critério. As pessoas envolvidas precisam se apoiar umas às outras, criar espaços de discussão, encontros, bancas investigativas. Porque os parâmetros são mutáveis, embora isso não seja fácil. É preciso publicar, mas para isso pode ser preciso criar periódicos que aceitem este tipo de pesquisa. Ainda que estes sejam pior avaliados no início.
A pesquisa qualitativa se insere positivamente no campo interdisciplinar, o que favorece seu fortalecimento. Marilia cita as comunidades interpretativas. É como se a investigação fosse mais sobre o método do que sobre o assunto. Mas é preciso ser claro e explícito acerca do método escolhido, dizer porque se opta por métodos qualitativos. Um texto que se baseia em métodos como materialismo histórico ou fenomenologia, mais cristalizados no âmbito da universidade, não precisa ser precedido de explicação. Entretanto, a escolha da pesquisa qualitativa necessita ser elucidada, defendida, legitimada, para que este caminho seja sedimentado e se torne tão natural quanto os demais. Marilia lembra um professor que dizia para a classe: “Inventem metodologias!”, “Criem epistemologias!”. Já há algum tempo é ela quem assume esta postura provocadora.
Singularidade e particularidade
O raciocínio binário nos toma de assalto, diz Marilia. É preciso pensar em outros glossários, não nomear com presteza, nem por oposição.
Auto etnografia
Quando se pesquisa a própria experiência encontra-se muita coisa interessante. Produzir material a partir da própria experiência. Isto está localizado nas propostas mais radicais da pesquisa qualitativa.
ECOAR – estudos em corpo e arte
O grupo ECOAR, de que Marilia faz parte, discute as possibilidades de diálogo entre o corpo e as artes, entre os movimentos sociais feministas, das artes junto aos movimentos sociais de periferias, entre outros. A pesquisa qualitativa se insere neste contexto perguntando o porquê de determinadas escolhas metodológicas em detrimento de outras.