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GE – Grupo de Estudos (30/05/2016)

“As Cidadanias Mutiladas”, de Milton Santos, e “Mídia, Racismos e Representações do Outro: ligeiras reflexões em torno da imagem da mulher negra”, de Rosane Borges

 

Em “As Cidadanias Mutiladas”, Milton Santos inicia definindo o termo cidadão como “indivíduo dotado de direitos que lhe permitem não só se defrontar com o estado, mas afrontar o estado”. Um indivíduo completo, que sabe quais poderiam ser os seus direitos, que compreende o mundo em que transita.

Segundo Santos, a classe média no Brasil não é formada por cidadãos, já que não se preocupa em saber quais são seus direitos, e sim quais são os privilégios de que pode usufruir. É porque esta classe goza de privilégios que os demais não podem ter direitos. Porque uma classe não quer ser cidadã, as demais não podem sê-lo.

As mutilações da cidadania são várias, tais como:

  • Negação a oportunidades de trabalho
  • Desigualdade na remuneração
  • Demarcação da localização das moradias
  • Acesso restrito à circulação
  • Acesso restrito à educação
  • Acesso restrito à saúde, pela falta de “pistolões” que proporcionem o atendimento de qualidade em sistemas públicos de saúde
  • Ausência de direito ao uso irrestrito das novas tecnologias
  • Desigualdade de tratamento por parte da polícia e da justiça

Santos elenca também 3 dados centrais para entender o racismo:

  1. Corporalidade: dados objetivos

Este dado inclui a mobilidade e a capacidade de realizar coisas. Pensa o uso racional do território e dos recursos públicos. No Brasil, algumas empresas e algumas pessoas organizam as cidades para proveito próprio. Há um corporativismo que utiliza os recursos públicos e relega ao restante da população o resíduo do orçamento.

  1. Individualidade: dados subjetivos

A questão dos negros é mais grave porque é cumulativa, vem de um sistema de escravidão baseado no darwinismo social. Algumas pessoas ou raças são consideradas inferiores na escala da sociedade mundial. Este dado afasta a população negra das demais minorias, como as mulheres (que lutam de dentro da sociedade e, portanto, conseguem alguns avanços) e os índios (considerados parte da natureza que deve ser preservada). Os negros são considerados parte da produção. Por isso considera-se normal os milhões de pobres e desempregados no país, porque são considerados seres inferiores.

  1. Cidadania: dados políticos

Após 3 séculos de Iluminismo, o centro do universo deixa de ser o homem para ser o dinheiro. A democracia de mercado impõe competitividade, elogio à técnica. O homem é residual. Neste contexto “os mais fracos não hão de esperar nada e os negros muito menos”. São todos vítimas da violência do dinheiro e da informação. Há um assassinato cotidiano da ideia de nação.

Santos, porém, crê que a esperança possa vir desta globalização, que atua também de maneira cruel em relação aos considerados mais fracos. A migração constante poderia enriquecer o discurso, pensando novas formas de ver o mundo a partir das diferentes experiências. Segundo Santos, “os americanos propuseram ao mundo cheirar igual, com os famosos desodorantes. Não conseguiram”.

O autor aponta o difícil acesso às modernidades pelos mais pobres como um fator positivo, no sentido de que estes têm a real noção do “seu ser no mundo”, do seu “existir na formação social nacional”. [Neste sentido, Nicolau Sevcenko dizia que a América Latina tinha uma posição privilegiada de ver o mundo por um olhar periférico, não de dentro do olho do furacão, mas de fora da neurose coletiva. Ele dizia que o mundo estava no looping da montanha russa, de cabeça para baixo e em condições de repensar a história replanejando o futuro].

O texto de Santos propõe aos negros conhecer não só o seu campo, mas também o do outro. Conhecer, sobretudo, o “campo comum em que vivem todos os brasileiros”, para buscar lugares mais importantes dentro da sociedade. Para além dos guetos. Termina dizendo que “pedir aos negros que aceitem o discurso oficial e esperem tranquilos a evolução normal da sociedade é condená-los a esperar outro século”. Impossível.

 

Por sua vez, no texto Mídia, Racismos e Representações do Outro: ligeiras reflexões em torno da imagem da mulher negra”, Rosane Borges aborda a maneira como a mídia interfere na maneira dos indivíduos enxergarem-se uns aos outros, contribuindo na formação do imaginário coletivo. Ela aponta a importância desta influência, uma vez que a sociedade tende, por si só, a estabelecer juízos de valor a partir de determinados critérios como melhor/pior, belo/feio, normal/desviante, e assim por diante.

Em relação aos negros, a autora observa que já existe uma crítica ao modo de representa-los de maneira uniformizada e preconceituosa. Pesquisadores já reclamam uma postura pluralista e voltada à diversidade, capaz de derrubar os habituais estigmas de racismo. É preciso apenas ouví-los.

Rosane cita uma amostragem do modus operandi da sociedade julgar seus pares a partir de determinados símbolos:

  • Limusines negras são relacionadas a seres poderosos, geralmente ligados à política ou à economia.
  • Livros atrás de entrevistados significa que os mesos são intelectuais.
  • Mulheres chorando remetem-se a mães lamentando por algo com os filhos.
  • Nomes omitidos e identidades ocultas falam de pessoas exiladas, desterritorializadas.
  • Imagens e vozes distorcidas tem a ver com o terceiro mundo, os estranhos, os “outros”.

Seguindo estes modelos, espera-se que o mundo continue igual, conhecido, sem grandes surpresas que possam abalar as estruturas de poder. A autora cita a prática do “controle de rostos”, que facilita a escolha de quem pode entrar nos estabelecimentos privados, adquirir bens, habitar e trabalhar, sem causar danos aos proprietários. A mídia serve a estes propósitos, repetindo à exaustão as regras do aceitável, do considerado normal. Neste contexto o homem e a mulher negra são categorizados segundo critérios desumanizantes.

A postura da mídia é, majoritariamente, conservadora dos valores coloniais e eurocêntricos. As imagens do passado revestem-se de novas roupagens para assegurar a perpetuação dos privilégios de classe e raça. Em relação às mulheres negras, o modelo ainda lembra a Vênus de Hotentote, com formas protuberantes que aludem a uma hipersexualidade. De um lado a beleza sensual e de outro a suposta falta de controle sobre os instintos, a mulher negra serve de ícone para propagandas como a da cerveja Devassa, cujo slogam declara: “é pelo corpo que se conhece a negra”.

Autoras como Rosane Borges e Bel Hooks concordam em que o sistema patriarcal e machista dos tempos coloniais subjugava as mulheres negras considerando-as objetos de seus senhores brancos. Este infeliz julgamento permanece como pano de fundo para que se mantenha um julgamento estereotipado acerca das mesmas, ainda que há muito elas tenham ingressado no mundo intelectual, artístico e profissional de todas as áreas.

Como então quebrar este círculo vicioso e libertar a mulher negra da imagem da Vênus de 1789, exibida como objeto de atração e assustamento? Rosane crê que a saída esteja na comunicação contraintuitiva, na qual teorias são fundamentadas em estudos das diferenças, da diversidade, da pluralidade, rejeitando modelos cristalizados. Só assim a verdadeira imagem da mulher negra pode ser resgatada, devolvendo-a ao lugar digno que todo cidadão merece.

Sobre os autores

Milton Santos nasceu na região da Chapada Diamantina, filho de pais professores primários. Aos dez anos ingressou no Instituto Baiano de Ensino de Salvador, passando em primeiro lugar. Em 1948, formou-se em Direito pela Universidade Federal da Bahia. Desde a juventude atuou na política estudantil, criando jornais e participando da União Nacional dos Estudantes, da qual chegou a ser vice-presidente. Em 1956, foi convidado a realizar seu doutorado em Estrasburgo. Em 1960, já de volta, publicou o estudo “Mariana em Preto e Branco”. Com o golpe militar de 1964, foi preso e exilado. Neste período atuou como professor na Universidade de Toulouse, na França. Retornou ao Brasil em 1977, ingressando na USP como docente em 1984. Faleceu aos 75 anos, em 2001.

Rosane Borges é jornalista, pós-doutoranda em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, integrante do grupo de pesquisa Midiato (ECA-USP) e professora do Curso de Especialização do Celacc (Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação da USP). Foi coordenadora nacional do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC) da Fundação Palmares, órgão do Ministério da Cultura, e professora do Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde integrou o corpo docente do mestrado em Comunicação Visual. Coordenou a Revista Nguzu (NEAA-UEL) e escreve regularmente nos portais de notícias “Obsevatório da Imprensa”, “Geledés” e “Áfricas”. Integra a Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra (OAB-SP), a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-SP) e o Conselho Nacional de Promoção de Políticas da Igualdade Racial (CNPIR) da Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial). Possui diversos livros publicados, entre eles: Jornal: da forma ao discurso (2002), Rádio: a arte de falar e ouvir (2003) e Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro (2004).

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Ata da 12ª Reunião – GE – 30/05/2016

Pauta

  • Este encontro dedicou-se à preparação da entrevista com a Prof.ª Dra. Rosane Borges, marcada para o dia 06/06/2016. Foram escolhidos 2 textos para discussão: “As Cidadanias Mutiladas”, de Milton Santos, e “Mídia, Racismos e Representação do Outro: ligeiras reflexões em torno da imagem da mulher negra”, da própria Rosane Borges. O primeiro foi citado por ela no seminário O Negro no Brasil, ocorrido dia 12/05/2016. Sua escolha se deve, além disso, ao fato de que Milton Santos introduz a questão do racismo num plano mais abrangente, possibilitando um melhor entendimento da situação e representação da mulher negra, abordadas por Rosane Borges em seu artigo.
  • A discussão dos 2 textos abriu espaço para falarmos sobre um acontecimento trágico que marcou a semana anterior ao encontro, que foi o estupro coletivo de uma garota de 16 anos no Rio de Janeiro. Foi observado que este tipo de violência contra a mulher decorre de um comportamento prepotente, autoritário e darwinista como os apontados nos textos lidos, que supõe que alguns seres humanos são superiores a outros e, portanto, tem mais direitos. Estes direitos compreenderiam o uso de uns pelos outros, sem qualquer tipo de culpa ou consequência.

 

GE – Texto de Milton Santos “As Cidadanias Mutiladas”

  • Eliana Monteiro da Silva apresentou este texto a partir de 3 pontos considerados importantes para o autor: corporalidade, individualidade e cidadania. A corporalidade teria dados objetivos quanto à mobilidade dos cidadãos e sua capacidade (ou restrição da mesma) de realizar coisas. A individualidade teria dados subjetivos e caracterizaria a comunidade negra de modo particular e diferente das outras minorias, pelo fato de que as outras reclamam direitos de um lugar que está inserido na sociedade, enquanto os negros estão excluídos da mesma. Já a cidadania se basearia em dados políticos, que dependem de uma democracia voltada para os homens e não para o mercado.
  • Segundo Milton Santos, um cidadão é um indivíduo completo que, se não consegue exercer seus direitos, sabe quais são eles e tem condições de reivindica-los. No Brasil, o autor constata que estas cidadanias são mutiladas porque há uma situação de colonialismo que busca manter os privilégios da classe média soterrando os direitos dos demais. O próprio território e seus recursos naturais são manipulados, quase totalmente, por poucas pessoas e/ou empresas. Ao restante da população disponibiliza-se o resíduo do orçamento da nação.

 

Texto de Rosane Borges “Mídia, Racismos e Representação do Outro: ligeiras reflexões em torno da imagem da mulher negra”

  • O segundo texto a ser discutido versou sobre a imagem da mulher negra e sua associação a estereótipos de hipersexualidade. Segundo a autora, a mídia reproduz um discurso preconceituoso e racista sobre a mulher negra, tornando-se formadora e mantenedora desta opinião. Tal imagem teria origem na constituição corporal de Sarah Baartman, uma mulher negra nascida em 1789, cujas nádegas eram proeminentes a ponto de chamar atenção. Esta “desproporção” seria exibida como algo monstruoso e exótico, confirmando a “normalidade” e perfeição do homem e mulher europeus.
  • As medidas ampliadas de Sarah foram associadas a um suposto apetite sexual exagerado, de onde vem o estereótipo da mulher negra devassa. Propagandas de cerveja, entre outras, usam estes signos do imaginário construído ao longo dos séculos para criar um lugar para as mulheres negras, qual seja nos desfiles de carnaval, nas rodas de samba, etc.
  • Rosane termina apostando na comunicação contraintuitiva pode quebrar padrões e desconstruir estigmas pré-estabelecidos. Aponta também a importância de estudos atentos à diversidade, ao racismo e à alteridade, para transformar nossos horizontes de representação.

 

Planejamento da próxima reunião – série Visões – dia 06/06/2016

  • Entrevista/conversa com Rosane Borges.

 

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Operacional

Ata da 11ª Reunião – interna – 23/05/2016

Pauta

  • Atualização do calendário Google
  • Atualização do calendário do site
  • Padronização dos títulos das transmissões no youtube
  • Revisão de posts

 

Tópicos abordados

  • Convite dirigido à Professora Rosane Borges para a série Visões, dia 06/06/2016. Eliana ficou de confirmar e pedir dados da convidada para divulgação.
  • Texto a ser lido no encontro do dia 30/05. Foi sugerido um capítulo do livro “Mídia e Racismo”, organizado por Rosane Borges e Roberto Carlos da Silva Borges, para preparar a entrevista da autora.

 

Planejamento das próximas reuniões:

  • 30/05 – GE – Texto de Rosane Borges (a confirmar)
  • 06/06 – Série Visões com Rosane Borges (a confirmar)

 

 

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Operacional

Ata da 10ª Reunião (16/05/2016)

Evento “Mulheres Negras nos movimentos sociais – liderança e feminismo negro”

  • No dia 16/5 o tradicional encontro da Sonora foi substituído pela ida ao evento de abertura da USPRETA. Em mesa composta por Maria José Menezes, do Núcleo de Consciência Negra, e Maurinete Lima, da Frente 3 de Fevereiro, a USPRETA promoveu o debate sobre o tema “Mulheres Negras nos movimentos sociais – liderança e feminismo negro”.

Local: CCA (prédio central da ECA) – Lupe Cotrin. Horário: 18 hs.

 

Planejamento das próximas reuniões:

  • 23/05 – Interna
  • 30/05 – GE – Texto de Rosane Borges (a confirmar)
  • 06/06 – Série Visões com Rosane Borges (a confirmar)

 

 

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Visões

Contribuições da rede Sonora para o Forum WISWOS – Educating Girls in Sound – apresentado por Lílian Campesato – English Version

WISWOS 2016 – April, the 22th – Lancaster University

Lílian Campesato

Sonora – NuSom

lilicampesato@gmail.com

 

I – Introduction and Context

 

My name is Lílian Campesato and I represent Sonora, a collaborative network that brings together artists and researchers interested in feminist expressions in the field of arts, specially the context of Brazilian and Latin American issues.

But I’m also speaking by and about myself as a Brazilian women, artist, performer, researcher and pregnant with my first baby.

 

SONORA Network

 

SONORA is a collaborative network that brings together artists and researchers interested in feminist manifestations in the context of the arts. The group promotes the establishment and occupation of spaces and develops debates and academic research related to participation of women in music. It is also involved in different types of musical activities. Sonora currently holds three regular activities: the Study Group, which carries discussions of texts and listening sessions; the Voices Series, which invites women artists to talk about their own work; and the Vision Seria, which receives researchers and scholars involved with gender issues and feminisms.  Sonora is crossed by uncertainty, vagueness, reticence, openness, affectivity, sensitivity, noise. Thus, the group establishes itself as a mutant organization that welcomes different types of collaboration.

 

The main goals of Sonora are the creation and occupation of artistic and academic spaces, and, in addition, conducting research and discussions on various

aspects of musical activities. These proposals takes place through three regular activities: a Study Group, with discussions of texts and listening sessions; the Voices series, which gets women artists to talk about their own work; and the Visions series, which gets researchers who work in gender and feminisms areas. Sonora is crossed by uncertainties, indefinitions, reticences, openings, affectivities, sensitivities, noise… which gives it a mutant profile that is open to endless collaborations.

  • Activism

 

Forum WISWOS 2016: Educating Girls in Sound

 

  1. What impact does the current education system have on young girls to deter them from moving into the fields of science, technology, the arts and engineering with sound? How can it be improved?
  2. What happens in the music/sound tech classroom?
  3. At what point do we see the drop from equal interest to little interest?
  4. What initiatives already exist that do encourage girls to engage?
  5. What can we do, and should we do it or not?

 

WISWOS 2016 are looking for their contributions to change: innovative, imaginative, thoughtful, challenging ideas that can be put forward to propose changes to primary, secondary and third level education. We are also looking at experiences: what educational or non-educational experiences shaped your engagement with sound. What were the positives and negatives? What ideas do you have? If you are part of an organization that already works to challenge the gender divide we welcome your input and ideas.

 

II – My Contribution to WISWOS

 

Sonora:

As soon as I knew that my participation at WISWOS was accepted I shared the main questions proposed for the meeting with my colleagues at SONORA. I’ve received an enthusiastic collaboration from SONORA members who kindly shared their thoughts and experiences related to the WISWOS issues. Although these personal accounts have been placed in an informal and not always organized manner, I would like to present some ideas that may represent a contribution to our discussion. Besides, I want to thank some colleagues who sent their comments: Vanessa de Michelis, Eliana Monteiro. Ariane Stolfi, Antonilde Rosa, Valéria Bonafé, Alexandre Fenerich, Davi Donato, Isabel Nogueira, Tânia Neiva.

 

1. Discussion: Women in Brazilian cultural environment: the social role attributed to women (women’s role in society; the participation of religion,  Estate and other institutions in the regulation of this role)

 

Many classrooms in Brazil until the mid-1960s were not mixed. The unprecedented access of girls to school was accompanied by sexist discrimination complaints. One has to consider that these researches about sexism in school date back to 1970, when feminism was maturing as a mass movement and was entering the academic world. The situation is similar when we address the question of social class: the notion that the school reproduces social inequality appears alongside the entry of low-income population in educational institutions. If there is no poor people – and women – in school, inequality is evident.

 

2. Discussion: What impact does the current education system have on young girls to deter them from moving into the fields of science, technology, the arts and engineering with sound? How can it be improved?

 

Statement 1: “A hierarquia de gênero ainda é um dos principais estorvos do sistema educacional que tem impactos negativos na formação e inserção de mulheres nestas áreas. O conhecimento sempre foi uma ferramenta e teceu as relações de poder e opressão, neste sentido, as estruturas do sistema patriarcal são mantidas e reforçam as  desigualdades de gêneros, para que os homens permaneçam nesta posição privilegiada e de poder.” Antonilde Rosa

 

Statement 2: “de uma maneira geral acho que o peso maior já vem da cultura onipresente, ao chegar na sala de aula, qqr indício (indication) que essa cultura será re-afirmada já tem o dobro, triplo do peso. portanto, talvez “neutralizar” o novo território com exemplos de diversidade e visibilidade femininas possam ajudar a estabelecer uma relação de confiança (trust, confidence) e igualdade que talvez seja “mais segura” que o ambiente externo e talvez isso possa abrir um espaço de confiança para as garotas nos campos da ciência e tecnologia ainda que a sociedade não o forneça, por exemplo”. Vanessa de Michelis

 

3. Discussion: the inexistence of models and references:

One of the issues that may be preventing women from engaging in some particular disciplines is the lack of models and references from other women working in these disciplines. For this reason, the existence of groups and associations (sororities) is key to creating a sense of belonging and empowerment of women. It is important to have exclusive spaces where women can create their own ideologies.

 

Statement 3: “quando comecei, só eu de mulher, calada, insegura, reprimida. Com o tempo, procurei buscar ferramentas de existir naquele espaço; comecei a levar amigas naquele espaço; única interlocução possível era de homens; se tornou protagonista naquela situação; ofinicas tinham 90 % homens.;Hoje tem maioria de mulheres, alunas” Vanessa de Michelis

 

4. Discussion: Idealisms  

Girls feel the need and even the obligation to be the best, to stand out, to be successful. Participation in collective situations is seen as a risk because the fear of exposure.

 

5. Discussion: What happens in the music/sound tech classroom?

 

Statement 4: Harmony Class (UniRio): “A performance em sala de aula das garotas, apesar de seu entendimento ser o mesmo que a dos rapazes, é eclipsada pelos meninos que “são bons em harmonia” – em geral os músicos de MPB. Ou seja, esses participam da aula, numa atitude de desafio ao professor (assim eu percebo). Naturalmente, dominam a cena. No entanto, a única garota que faz MPB não tem essa atitude e é muito tímida (…) Pela harmonia os homens ligados a composição ou arranjo se exibem – e eclipsam a performance das meninas e dos demais músicos. Como dominam a cena, se o professor não perceber o jogo estará acentuando a divisão, como num ciclo vicioso. Significativo é que, conforme percebo, com esse jogo exibicionista os homens “bons em harmonia” disfarçam o trabalho mal feito ou sua ausência (eles já sabem, não é mesmo?0, enquanto que as meninas garantem esse trabalho.”  Alexandre Fenerich

Statement 5: – Music/sound Tech Class (UFRJ): “quando dei aula de tecnologia musical (como substituto na ufrj) tive uma turma de 16 alunos dos quais apenas uma era mulher. Na primeira aula eu apresentava o curso e tentava entender qual o interesse dos alunos, quando acabou a aula essa aluna esperou todos saírem e veio me perguntar se eu achava que ela era capaz de fazer o curso. Eu, sem entender bem pq ela estava me perguntando aquilo, falei que claro que sim pois o curso não tinha pre-requisitos e que ela, assim como os outros alunos, podia me ajudar a fazer com que o curso não fosse difícil demais. enfim, ficar a vontade para perguntar coisas, perguntar por email, conversar depois da aula etc. Ela parecia interessada, continuou vindo às aulas, sempre fazia muitas anotações (muito mais do que os outros alunos), eventualmente perguntava alguma coisa no fim da aula (nunca na frente dos outros alunos) mas quando chegou o prazo para trancamento (umas 5 ou 6 semanas depois do início) ela trancou e não apareceu mais. Disse que ficou com medo de ser reprovada. Dos 16 alunos dessa turma só dois trancaram, o outro era negro e, apesar de se comportar de forma bastante diferente da menina, também era claro que via mais barreiras no seu caminho do que os outros 14 alunos (por exemplo ele foi o único da turma a ver como uma barreira o fato de alguns dos softwares serem em inglês, dentre os outros vários tb não entendiam inglês mas tinham autoconfiança de que iriam se virar). O que me parece é que, por parte do professor, apenas evitar comportamento machista não basta para evitar esse clima de clube do bolinha em certas disciplinas. Mas não sei bem o que mais poderia ser feito. Acredito que trazer exemplos de mulheres ajude, mas em aulas mais técnicas, onde raramente se usa exemplos de repertório, essa não é uma opção. Trazer a questão para a sala de aula parece ser uma excelente sugestão, mas tentando ser realista, acho que isso não é pra todo mundo, eu pelo menos não sei se seria capaz disso hoje. É um tema bastante delicado, no caso que contei por exemplo desconfio que seria bastante constrangedor para a aluna em questão, que fazia o máximo para não chamar atenção para si. Além disso isso envolve um enfrentamento gigante, não apenas dos alunos e da instituição que é sempre conservadora, mas também de vertentes feministas que julgam que o homem não é apropriado para lidar com essas questões (e talvez não seja mesmo, sei lá…). Enfim, sendo honesto aqui, eu teria medo de acabar piorando a situação. Pensando alto, será que medidas radicais como aulas exclusivas para mulheres seria um caminho, especialmente nestas disciplinas em que existe uma disparidade evidente? Lembrei de um caso anos atrás quando eu era aluno de uma escola estadual de música no RJ em que um professor de percussão criou uma bateria exclusiva de mulheres (foi muito criticado, claro), e em poucos meses a quantidade de percussionistas mulheres na escola disparou, algumas meninas seguiram carreira inclusive.” Davi Donato

 

III. Proposals:

It is essential to encourage the diversity of viewpoints and social roles. We must make visible the existence of different ethnic groups, ages, social classes. For this, it is necessary to stimulate the coexistence with the diversity of genders, races and ideologies. At the same time, we must sensitize students about gender issues and  develop a process of visibilization of girls.

 

Considering that the classroom is also a political space, a space of power and of construction of citizenship, it is necessary to develop a political sense, an awareness of the construction of female identity. This identity is not something already set, but a process of becoming-a-woman. The construction of this identity is necessary for the empowerment of girls. The motivation to study will come from self-esteem and self-confidence.

 

We must be careful not to encourage chauvinist and sexist actions or promote gender inequality. We must avoid the pressures that act to the silencing of women’s bodies and voices. We should not determine the places and territories that girls should take, as this is a matter of personal choice and affinity.

 

To promote micropolitical actions and autonomy: To return to spaces that were exclusively occupied by women; retrace their paths, the places in which they were alone, where they had no access to references. Redesign these contexts.

To recover.

 

Other actions:

Find girls and empower them. Identify potential replicators.

Create unique spaces for women. Create spaces that are complementary to the ones that are predominantly male. In the contexts where female examples and references are absents, transform these contexts so that they provide conditions for the participation of girls. We should not rely only on our point of view. We need to interview girls and boys about what they want for these spaces.

 

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Visões – “Relato e debate sobre o Fórum WISWOS – Educating gilrs in sound”, com Lílian Campesato (Divulgação)


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Sonora convida para mais uma edição da série Visões na próxima segunda-feira, 09/05, às 17h30, na Sala do Nusom. Nesse encontro teremos um relato seguido de debate sobre os temas tratados no FórumWISWOS (Women in sound Women on sound: Educating girls in sound) que aconteceu no dia 22 de abril na Universidade de Lancaster, Reino Unido.

O relato e o debate serão conduzidos pela artista e pesquisadora Lílian Campesato que participou do Fórum no ano de 2016. A ideia é recuperar as contribuições que toda a rede Sonora deu para a apresentação no Fórum frente ao que foi proposto e discutido no âmbito do WISWOS. Para isso, iremos aprofundar as reflexões e propostas referentes à educação das garotas, à promoção de visibilidade, à falta de modelos e a tantos outros temas discutidos. De uma maneira sintética os assuntos discutidos durante o WISWOS 2016 passaram pelas seguintes perguntas:

  1. Que impacto os sistemas educacionais têm nas jovens garotas que as impedem de se dirigir aos campos da ciência, tecnologia, artes e engenharias com som e composição? Como isso pode ser modificado / melhorado?
  2. O que acontece nas salas de aula de música (composição) / engenharia de áudio, música e tecnologia, etc?
  3. Em que ponto (quando) observamos uma mudança do mesmo nível de interesse (em relação aos meninos) para pouco interesse (nessas áreas e aulas)?
  4. Que iniciativas já existem para encorajar as garotas a participar / se envolver?
  5. O que nós podemos e o que nós não devemos fazer a esse respeito?

Lílian Campesato é musicista e pesquisadora com ênfase na experimentação de meios híbridos e não usuais de criação sonora, especialmente performances. Seus trabalhos exploram o uso da voz e gesto combinados a recursos eletrônicos e audiovisuais interativos. Realizou doutorado na Universidade de São Paulo com a tese “Vidro e Martelo: contradições na estetização do ruído na música”, que trata de diferentes concepções sonoras na música e nas artes a partir das relações de incorporação e rejeição do ruído. Realizou pós-doutorado junto ao NuSom  (Núcleo de Pesquisas em Sonologia da Universidade de São Paulo) o com uma pesquisa que investiga os discursos acerca dos contornos e limites da música. Foi uma das criadoras do Sonora, um grupo dedicado à discussão da participação das mulheres na música.Website: http://liliancampesato.tumblr.com

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Ata da 9ª Reunião (09/05/2016) Série Visões com Lilian Campesato

Relatos de Lilian Campesato em Lancaster durante o “Women in Sound, Women on Sound Forum: educating girls on sound

  • Lilian contou que foi a única participante do Hemisfério Sul.
  • O Fórum durou um dia na Universidade de Lancaster. É o segundo ano do evento.
  • O evento foi criado porque xs organizadorxs perceberam que havia um desequilíbrio entre a quantidade de meninos e meninas nas universidades de música.
  • Foram realizados workshops, fóruns de discussões, palestras e concertos.
  • Participaram também adolescentes da comunidade, alunxs de conservatórios, escolas de música em geral.
  • Foram apresentadas keynotes sections com Anna Xambó e Liz Dobson. Estas palestras abordavam o acesso das meninas ao universo da experimentação sonora, a visibilidade das mulheres neste âmbito, etc. Não foi observada a preocupação em relação a outros campos em que as mulheres se sentem excluídas.
  • Xs participantes foram divididxs em grupos para discussão de perguntas pré-estabelecidas. Entre os questionamentos estava a trajetória musical de cada um(a). A composição destas mesas variava a cada pergunta. Tinha uma adolescente da rede pública em cada mesa.
  • Houve um momento para que representantes das mesas apresentassem as conclusões a que cada grupo chegou.
  • Havia uma única pessoa negra no evento, uma mulher, que foi representante de uma das mesas.
  • Problemas e possíveis soluções foram elencados e discutidos.

Tópicos discutidos depois da apresentação de Lilian sobre o evento:

  • Questão de privilégios.
  • Questão da falta de modelos de outras mulheres na música.
  • O impacto que o sistema educacional vigente exerce na exclusão de meninas de certas atividades.
  • A inclusão de mães nas atividades musicais.
  • A sensibilização dx outrx para questões que teoricamente não lhe pertencem.
  • A importância de espaços exclusivos para meninas, para mulheres negras, para minorias se colocarem e se fortalecerem.

Planejamento das próximas reuniões:

  • 16/05 – Reunião interna
  • 23/05 – GE com texto de Rosane Borges
  • 30/05 – Interna
  • 06/06 – Série Visões com Rosane Borges?

Link da transmissão:

 

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Ata da 8ª Reunião – interna – 02/05/2016

Posted on 03, 05, 2016 by Eliana Monteiro da Silva

Ata da 8ª Reunião – interna – 02/05/2016

Pauta
• Contato de Mariana com Rosane Borges, pós-doutoranda em Ciência da Comunicação na ECA-USP. Rosane está dando disciplina no CELACC (Centro de Estudos Latino-americanos sobre Cultura e Comunicação), e se dispôs a conversar com a Sonora sobre feminismo negro. Rosane é autora, entre outros, do livro Mídia e Racismo, de 2012. Ficou marcado um encontro dia 03/05 às 17:30 no Jornalismo da ECA.
• Calendário – divulgação de eventos
• Ariane deu orientações sobre atualização do site
• Introdução do logo no youtube Sonora

Planejamento das próximas reuniões:
• 09/05/2016 – Série Visões: Relatos de Lilian Campesato em Lancaster durante o “Women in Sound, Women on Sound Forum: educating girls in sound”
• 16/05 – reunião interna
• 23/05 – Série Visões (a princípio a sugestão é que a entrevista seja com Rosane Borges)
• 30/05 – GE (texto a definir)