Neste encontro fizemos nossa primeira discussão a partir da leitura de um texto. A proposta veio do reconhecimento da necessidade de tomarmos um primeiro contato com a musicologia feminista, para isso fomos buscar Susan McClary, uma das musicólogas frequentemente creditada pela abertura de espaço para a discussão de gênero dentro da musicologia.
Susan McClary (n. 1946) começou sua carreira na década de 1970 lecionando na Universidade de Minnesota (1977-1991), posteriormente na McGill University (1991-1994), na Universidade da Califórnia, Los Angeles (1995-2011) e na Case Western Reserve University (2011-). McClary se notabilizou na década de 1980 publicando artigos que defendem um estudo da música que valoriza o contexto da prática musical e chamando atenção para questões tradicionalmente ignoradas no estudo da música como corpo, emoções e gênero, além dos aspectos socioculturais que influenciam ou se manifestam nestas práticas. Alguns destes artigos estão reunidos no livro que escolhemos discutir – Feminine Endings: Music, Gender, and Sexuality – publicado pela primeira vez em 1991. Este livro é amplamente considerado o trabalho fundador da musicologia feminista, daí sua relevância para nosso grupo.
Entrevista com Susan McClary
Ao favorecer a valorização do contexto na análise de peças musicais McClary se coloca em oposição ao estudo da música que se funda na ideia de autonomia da obra de arte, corrente que dominava o campo da musicologia e da teoria musical até então. Por este aspecto, McClary se aproxima de um grupo de musicólogos, a maioria anglófonos, que pratica o que passou a ser chamado de Nova Musicologia[1], um grupo bastante heterogêneo e informal, que em alguns casos nem se identificam com a alcunha, mas que em geral têm em comum esta preocupação com a contextualização da obra musical e uma crítica forte à autonomia e à leitura formalista da música.
Para este encontro de nosso grupo de estudo combinamos de ler o prefácio (Feminine Endings in retrospect), escrito para a reedição em 2002, que traz uma avaliação do efeito que o livro teve e das mudanças ocorridas no campo da musicologia desde então e o capítulo 6 (This is not a story my peaple tell) que analisa duas canções de Laurie Anderson: “O Superman” e “Langue d’amour”.
Canções de Laurie Anderson discutidas no texto:
https://www.youtube.com/watch?v=QH2x5pARGdE
https://www.youtube.com/watch?v=Ae9fZz8Poks
Principais livros de Susan McClary:
- Music and Society: The Politics of Composition, Performance, and Reception (editora, juntamente com Richard Leppert). Cambridge University Press, 1989.
- Feminine Endings: Music, Gender, and Sexuality. University of Minnesota Press, 2002 [1991].
- Georges Bizet: Carmen. Cambridge University Press, 1992.
- Conventional Wisdom: The Content of Musical Form. University of California Press, 2001.
- Modal Subjectivities: Self-Fashioning in the Italian Madrigal. University of California Press, 2004.
- Desire and Pleasure in Seventeenth-Century Music. University of California Press, 2012.
Principais artigos de Susan McClary:
- Terminal Prestige: The Case of Avant-Garde Music Composition. Cultural Critique n. 12, 1989.
- In Praise of Contingency: The Powers and Limits of Theory. MTO v. 16 n. 1, 2010.
- Feminine Endings at Twenty. TRANS v. 15 n. 2, 2011.
[1] Outros musicólogos que podemos considerar parte deste movimento nas décadas de 1980 e 90 são Joseph Kerman, Kevin Korsyn, Daniel Chua, Suzanne Cuzick, Judy Lochhead, Ruth Solie, Rose Subotnik, Philip Brett, Elizabeth Wood, entre outros.